Samsara nasceu, aparentemente saudável, no dia 11 de fevereiro de 2021, filho de Água Akbal Pinheiro e Gabriela Luna Pinheiro, líderes do misterioso Reino do Pineal, que, em julho de 2020, se instalou no terreno anteriormente chamado Quinta dos Sete Poços – que, meses antes, fora adquirido pelo futebolista internacional dinamarquês Pione Sisto, e cedido à seita (em condições não apuradas), como revelou a VISÃO na sua edição desta semana.
Nos meses seguintes, o recém-nascido conviveu com a comunidade, constituída por, à época, pelo menos, 40 membros – homens, mulheres e crianças –, mas também com pessoas de fora, como aconteceu, já perto da chegada do verão, quando Gabriela, a mãe, e a portuguesa Cátia Guerreiro foram apresentar o bebé à presidente da Junta de Freguesia de Seixo da Beira, Margarida Claro, que aproveitou o momento para posar com os visitantes, numa fotografia datada de 18 de junho de 2021, que seria publicada nas redes sociais do grupo. Samsara tinha apenas quatro meses de vida.
A gravidez de Gabriela não terá sido acompanhada. O parto não terá sido clinicamente assistido. Samsara nunca foi registado, nem sequer observado por um médico. A criança não foi vacinada. Com um ano de idade, apenas era amamentado. Todas estas informações foram confirmadas por fontes ligadas ao Reino do Pineal, ouvidas pela VISÃO. Quem fala, recusa-se a mostrar a cara.
Entretanto, a presença de Samsara tornou-se frequente nas publicações do Instagram, aparecendo, quase sempre, abrigado pelo colo – do pai, da mãe ou de outra mulher da comunidade –, dormitando quase sempre, revelando aparente fragilidade física. O negro brilhante da pele perdera-o. Era sempre a mesma pose… “Era”, leu bem.
Samsara morreu em março de 2022, confirmou, oficialmente, o clã Pinheiro, numa mensagem dirigida, na tarde desta terça-feira, à VISÃO. Tinha apenas 13 meses. Às nossas perguntas, a cúpula do Reino do Pineal responde que “a mãe de Samsara permanece na comunidade, ainda lamentando a morte do seu [terceiro] filho, mas cuidando dos seus outros dois filhos”. Nega, porém, “quaisquer alegações de maus-tratos”, indicando que “outros três partos já decorreram ali” e “as mães e os bebés estão saudáveis”. Sobre se Samsara estava vacinado ou foi observado e assistido na doença, por um médico, nada dizem. “É o máximo que estamos dispostos a compartilhar publicamente no interesse da proteção de dados, privacidade, saúde e segurança dos residentes de nossa comunidade”, afirmam.
A VISÃO desvenda agora o capítulo final desta (triste) história: Samsara morreu de doença não identificada. O seu corpo foi cremado, dentro da (anteriormente chamada) Quinta dos Sete Poços. Nesse dia, a seita fez uma cerimónia, que terminou com os seus membros lançarem às águas do rio Mondego as cinzas da criança falecida.
Em Seixo da Beira, ninguém se apercebeu ou fez caso da situação.
Com base em denúncias, o Ministério Público (MP) abriu, entretanto, um inquérito, que corre no Departamento de Investigação e Ação Penal de Coimbra (DIAP). Agora, vai-se investigar o “desaparecimento” de uma criança que, na verdade, nunca chegou a existir.
Para Samsara foi tarde demais; deseja-se que não seja tarde para mais nenhuma outra criança.