Foi libertado, esta sexta-feira, o homem que estava detido, há quase oito meses, pela posse do que a GNR dizia ser cocaína, mas que, afinal, não passava de açúcar em pó – como confirmaram, posteriormente, os testes realizados no Laboratório de Polícia Científica (LPC) da Polícia Judiciária.
Depois de a VISÃO ter divulgado, em primeira mão, a história de Manuel Lourenço Gomes – publicada na edição do passado dia 19 –, o juiz titular do processo convocou, com caráter de urgência, o suspeito para novo interrogatório, que decorreu, na última terça-feira, no Tribunal de Torre de Moncorvo. Nesta audiência, o Ministério Público alterou a posição anterior, propondo a revisão da medida de coação do suspeito. O juiz precisou de 72 horas para, hoje, confirmar esta alteração, passando a prisão preventiva para apresentações periódicas às autoridades (duas vezes por semana).
Recorde-se que Manuel Lourenço Gomes, 46 anos – feitos na última sexta-feira, 20 –, foi detido pela GNR de Torre de Moncorvo, no dia 31 de maio de 2022, junto à localidade de Barracão, Valpaços, pela posse em flagrante de 32,637 gramas de cocaína, que teriam sido encontrados envolvidos em papel de alumínio, no interior do porta-luvas da sua viatura.
Manuel Lourenço Gomes terá explicado ser “diabético” e que o produto encontrado era “apenas açúcar”, reservado “para alguma emergência”, explicação que não convenceu os militares. Segundo o relatório da operação policial, a que a VISÃO teve acesso, terá sido feito um teste rápido, numa farmácia local, que concluiu que o pó detetado era cocaína. O suspeito ficou em prisão preventiva no Estabelecimento Prisional de Bragança, mas, em novembro, já passados (longos) quatro meses, o LPC da PJ, no Porto, confirmava que, afinal, o produto apreendido não era cocaína nem qualquer outra substância ilícita – mas, de facto, açúcar em pó
Apesar destes novos desenvolvimentos, o Tribunal de Torre de Moncorvo (da Comarca de Bragança) decidiu manter a prisão preventiva como medida de coação; o MP de Torre de Moncorvo, por sua vez, também prosseguiu na teoria da culpabilidade de Manuel Lourenço Gomes, passando a incluir o seu nome no processo 18/20.7GATMC, com mais oito acusados por posse e tráfico de droga.
Passaram-se quase oito meses e… nada. Contactado pela VISÃO, o advogado João Peres, que defende Manuel Lourenço Gomes desde outubro de 2022, garante que, nos últimos meses, fez “tudo o que era tecnicamente possível” para que o seu cliente fosse libertado, mas confirma que “nenhum dos requerimentos apresentados surtiu efeito”. “Infelizmente, bastou a história aparecer na comunicação social para, em menos de uma semana, o problema ficar resolvido”, lamenta, concluindo com uma pergunta: “Afinal, o que vale mais a nível processual, o trabalho honesto e denodado de um advogado ou um ‘requerimento’ da comunicação social?”.
Coincidência ou não, a verdade é que o caso ‘virou do avesso’ apenas uma semana depois de a VISÃO ter contado esta história, em primeira mão, na edição do passado dia 19. Outros seguiriam o exemplo, ao longo do passado fim-de-semana. Logo na passada segunda-feira, o juiz marcou novo interrogatório, realizado no dia seguinte. E esta sexta-feira Manuel Lourenço Gomes foi colocado em liberdade, com base nos factos já apurados (e que tinham sido ignorados desde novembro).
À VISÃO, o advogado João Peres adianta que mantém a intenção de dar seguimento à queixa apresentada contra o juiz e o procurador do MP responsáveis pelo caso ao Conselho Superior da Magistratura e ao Conselho Superior do Ministério Público, classificando este dossier como “um autêntico escândalo”.