1. Se Perguntarem por Mim, Não Estou, seguido de Haja Harmonia
Mário de Carvalho

Conhecemos bem as forças narrativas de Mário de Carvalho, exercitadas nos seus romances e contos: a prosa rica, o humor insólito, os juízos ferinos, a ternura camuflada, a História a não querer ser esquecida. Forças reencontradas na sua escrita dramatúrgica. Distinguido com o Grande Prémio APE de Texto de Teatro em 1999, este volume revela espaços em antítese: um edifício aberto versus a claustrofobia duma prisão. Em Se Perguntarem por Mim Não Estou os rumores de um tigre à solta lançam o caos na vidinha dos vizinhos da classe média; em Haja Harmonia, os presos criam um statu quo (ilusório) em que não trocariam as três refeições diárias nem por ouro e prata, mas a subversão espreita a cada frase. Porto Editora, 320 págs., €18,85
2. O Papagaio de Flaubert
Julian Barnes

Nesta edição comemorativa dos 40 anos da primeira edição de O Papagaio de Flaubert, Julian Barnes assina o prefácio com as habituais fleuma e ironia. Diz que ficaria “aturdido” se há quatro décadas soubesse que o romance continuaria a ser publicado. Mas aproveita para umas punch lines: soube que o livro era finalista do Booker quando preparava um coelho estufado de férias na “France profonde”, e reivindica uma patente literária: “Se tivesse 50 pence, ou mesmo um pouco mais, por cada livro publicado nos últimos 40 anos com títulos como O Sobretudo de Proust ou O Botão de Púchkin (também Os Botões de Napoleão) ou O Cabelo de Beethoven ou O Nariz de Virginia Woolf ou O Chapéu de Vermeer (etc.,etc.), seria, bem, não muito mais rico, mas um pouco mais presunçoso por ter iniciado um género de títulos menor.” Este romance desarrumador de géneros continua a ser uma sedutora deambulação literária com um pretexto inusitado: o de um viúvo que viaja para contemplar o papagaio embalsamado que inspirou Flaubert. Quetzal, 288 págs., €18,80
3. A Trégua
Mario Benedetti

Pode dizer-se que quem não leu este romance, classificado como centralíssimo na literatura sul-americana, perdeu muito do que importa conhecer neste continente literário. O uruguaio Benedetti é um mestre humanista, um elegante marionetista das figuras humanas mais discretas subitamente assoladas por acontecimentos que as transcendem – para o bem, para o trágico e para todos os estádios intermédios. Na sua escrita, ironia e atmosfera acertam-se como um finíssimo relógio. Editado em Portugal em 2007, e depois reeditado em 2015, é um regresso a celebrar o desta história sobre Martin Santomé, melancólico viúvo, pré-reformado em torpor, cuja rotina funcionária é sacudida pela paixão por uma jovem, Laura Avellaneda. Cavalo de Ferro, 184 págs., €15,36
4. A Visita do Brutamontes
Jennifer Egan

“A nostalgia era o fim – toda a gente sabia disso.” Esta frase simples é uma boa entrada para este incrível romance, subjugado aos diferentes tempos vividos, e sobretudo percecionados, pelos protagonistas, à medida que estes enfrentam (auto)ilusões, derrotas, desfechos afetivos – há até um capítulo com diagramas existenciais. O brutamontes do título é, afinal, o tempo. Recebida em glória em 2010, a autora confessou como influências Em Busca do Tempo Perdido, de Proust, e a série Os Sopranos. Isto é: peregrinações por muitos pontos de vista e desilusões do envelhecimento. Aqui, tudo se desata a partir de Bennie Salazar, antigo músico punk, e Sasha, a sua assistente cleptomaníaca. O resto são muitos bónus narrativos. Quetzal, 384 págs., €19,90