O que pode acontecer quando a cabeça não pára e o que está à nossa volta também não dá sinais de abrandar? O corpo é que paga.
Por outro lado, uma simples infeção causada por micro-organismos é capaz de gerar transtornos de humor, alterações do sono, falta de concentração e outras alterações cognitivas e emocionais.
É a chamada pescadinha-de-rabo-na-boca: a complexidade do processo constitui um desafio, tanto para quem padece destes males como para os profissionais de saúde, pois ambos desejam uma resposta eficaz, mas nem sempre linear.
A conexão entre o cérebro e o sistema visceral é conhecida há décadas: ambos têm um sistema nervoso próprio e o que acontece num repercute-se no outro e vice-versa, não sendo por acaso que a Ciência tenha batizado o microbioma de “segundo cérebro”. Basta que um destes dois esteja desequilibrado para que todo o sistema fique comprometido e, caso essas alterações se tornem crónicas, podem resultar em doenças, tanto neurológicas como gastrintestinais.
Uma investigação biomolecular publicada este mês na revista Nature promete revolucionar o estudo da função dos neurotransmissores no intestino e noutro órgãos moles do corpo. A equipa de investigadores da Escola de Engenharia da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, liderada pelo docente de Engenharia Biomédica Jinxing Li, desenvolveu uma interface biológica neuroquímica, macia e elástica, que imita tecido e implantou-a no cérebro e no tecido intestinal de murganhos.
Os sensores da sonda Neurostring permitiram monitorizar, in vivo e em tempo real, os níveis de dopamina (associada à emoção de prazer e de recompensa) e de serotonina (responsável pela boa disposição), dois mensageiros químicos envolvidos nos mecanismos do sono, do movimento, do apetite e da digestão.
Inovação com potencial clínico
A equipa conseguiu a proeza de gravar os sinais captados pela sonda sem que o processo perturbasse minimamente a atividade normal das cobaias e ficou radiante com as potencialidades do dispositivo, que pode vir a ser usado em humanos e rastrear estes neurotransmissores da mesma forma que um smartwatch já o faz, na medição da frequência cardíaca ou do número de passos.
A nova sonda extensível, com grafeno na sua composição, supera as limitações de outros implantes, feitos à base de materiais rígidos ou frágeis, sem contar com os riscos de inflamação associados.
Embora o implante ainda não esteja disponível para uso clínico, a descoberta revela-se promissora no diagnóstico e vigilância de doenças e poderá vir a ser integrada como complemento do tratamento de doenças em que os desequilíbrios neuronais estão presentes, como sucede na doença de Parkinson (onde há carência de dopamina), nas doenças inflamatórias do intestino e na depressão (onde se verificam flutuações da serotonina).
Como aumentar os químicos do bem-estar
Porém, nem sempre tem de chegar-se à doença para pensar numa forma de resolver o problema. A melhor forma de evitar doenças crónicas que, na sua maioria, estão ligadas a estilos de vida, a fatores ambientais e de natureza individual, consiste em adotar comportamentos de saúde, física e psicológica. Essa é, afinal, a arma que temos à mão para prevenir as doenças da adaptação, associadas a eventos stressantes que podem acumular-se ou arrastar-se no tempo (desemprego, cuidar de familiares, problemas financeiros ou relacionais, desajuste entre o tempo de trabalho e vida pessoal e outras crises de vida).
Ainda que, em boa parte dos casos, não possamos prever ou controlar o que nos acontece, a forma de lidar com isso tem um papel muito importante, a começar nos cuidados pessoais. E se é certo que o recurso a fármacos prescritos e à psicoterapia podem ser uma ajuda preciosa quando a pressão é muita e o mal-estar aperta, cultivar hábitos que promovem bem-estar pode equilibrar a balança e ajudar-nos a lidar com fases mais críticas.
As evidências científicas mostram que existem quatro substâncias químicas que trazem bem-estar. Conhecê-las e reforçar a sua presença no nosso organismo pode tornar o quotidiano mais rico e contribuir para um aporte extra de felicidade.
Serotonina
O que nos traz: humor, vitalidade, boa disposição
O que a promove: meditação, dieta (nutrição, hidratação), cultivar a gratidão
Dopamina
O que nos traz: sensações de prazer e de gratificação ou recompensa
O que a promove: atividades criativas, ouvir música, dançar, aprender algo novo
Oxitocina
O que nos traz: sentimentos de intimidade e de amor
O que a promove: socialização, contacto físico (abraços), atos de generosidade
Endorfinas
O que nos trazem: resistência à dor e ao stresse
O que as promove: exercício físico, chocolate negro, atividades que divertem