Benito Mussolini, líder da Itália fascista do século XX, gesticulava intensamente enquanto discursava no púlpito de Roma – depois de abrir as hostilidades com a famosa saudação romana, o seu discurso era acompanhado por todo o tipo de gestos, desde apontar o dedo a esticar os braços de forma abrupta para dar maior ênfase às suas palavras. Adolf Hitler, chefe da Alemanha Nazi, era mais regrado – praticava recorrentemente os gestos que ia fazer nos seus discursos à frente de um espelho, que variavam entre punhos cerrados, mãos esticadas ou dedos apontados.
Determinados gestos corporais estão associados a posições de liderança – não era por acaso que estes dois ditadores davam importância às suas mãos nos discursos, uma vez que o seu poder dependia de uma perceção de liderança por parte de quem os ouvia. Uma postura confiante e assertiva, linguagem corporal aberta, contacto visual, apertos de mãos firmes ou até sorrisos são alguns dos gestos mais comuns de pessoas que pretendem sublinhar a sua liderança. Empresários, professores ou advogados adotam este tipo de táticas para serem mais persuasivos ou captarem melhor a atenção do seu público – não se trata de um truque exclusivo de líderes totalitários.
Agora, um estudo realizado por Hans Rutger Bosker e David Peeters trouxe novas descobertas científicas sobre a importância dos gestos nas nossas conversas. Segundo os dois investigadores holandeses do Instituto de Psicolinguísticas Max Planck, simples gestos ritmados com as mãos podem influenciar de forma fundamental a perceção das nossas palavras por quem as ouve.
A importância de um pequeno gesto
No seu estudo de comportamento, Bosker e Peeters pediram a um grupo de voluntários para assistir a vídeos de oradores que diziam palavras com um duplo significado, dependendo da ênfase numa determinada sílaba. Em português, estas são as palavras homógrafas – como “colher”, que tanto pode ser um utensílio de mesa ou o gesto de apanhar alguma coisa, dependendo da entoação na sílaba final.
Enquanto diziam estas palavras, os oradores movimentavam as suas mãos para cima e para baixo em determinadas sílabas – os chamados “gestos de batimento.” Após assistirem aos vídeos, os voluntários deviam dizer qual das sílabas tinha sido enfatizada pelo orador, de forma a compreender o significado correto da palavra.
Uma vez analisados os resultados, os investigadores concluíram que os participantes demonstravam uma tendência 20% superior para ouvir a ênfase numa determinada sílaba quando esta era acompanhada de um gesto de batimento da mão. Pelo contrário, quando os gestos eram realizados de forma contrária ao sentido da palavra, com os oradores a gesticular na sílaba errada para “enganar” os participantes, 40% destes acabaram por ouvir uma palavra diferente da que tinha sido proferida.
Assim, estes resultados demonstraram a importância dos gestos na perceção das palavras – um gesto correto pode ser essencial para sermos compreendidos, assim como um gesto errado pode levar uma audiência a perceber mal o que queríamos dizer. “O timing dos movimentos de mão mais simples é essencial para a comunicação cara a cara”, afirmou Hans Rutger Bosker.
O investigador também alertou para a importância desta pesquisa nos tempos de pandemia: “devido às máscaras faciais, não podemos ler lábios. Os nossos dados demonstram como a comunicação pode melhorar se for acompanhada de determinados gestos.” Apesar de o teste ter sido realizado em holandês, Bosker acredita que “este efeito pode ser generalizado a muito mais línguas para além do holandês, mas ainda é altamente especulativo.”