Publicada no jornal da Associação Médica Canadiana, a diretriz insiste que o mais importante é que os clínicos se foquem nas causas fundamentais do aumento de peso – para depois adotarem uma abordagem holística da saúde. A preocupação é, sublinhe-se, o estigma do peso contra pacientes no sistema de saúde.
“A narrativa cultural dominante relativa à obesidade alimenta os pressupostos sobre irresponsabilidade pessoal e falta de força de vontade, e ainda lança culpa e vergonha sobre as pessoas que vivem com obesidade”, lê-se no documento, que se destina aos clínicos dos cuidados primários, no diagnóstico e tratamento da obesidade na sua prática diária.
Segundo Ximena Ramos-Salas, a diretora de investigação e política da Obesity Canada, rede que junta doentes, médicos e investigadores sobre a doença, e uma das autoras da diretriz, o que a sua investigação mostra é que muitos doentes discriminam os pacientes obesos – e isso leva demasiadas vezes a piores resultados na sua saúde, independentemente do seu peso.
“É um preconceito que não se resume a acreditar no que está errado sobre a obesidade”, sublinhou a médica, citada pela BBC. “Tem efetivamente um efeito sobre o comportamento dos profissionais de saúde”.
O melhor peso pode não ser o ideal
Trata-se, recorde-se, de uma diretriz que não era atualizada desde 2006 – e, embora os últimos conselhos recomendem a utilização de diferentes critérios de diagnóstico (como o índice de massa corporal e a circunferência da cintura), estes continuam a ter limitações clínicas, considera aquela especialista. “Pequenas reduções no peso, por exemplo de 3 a 5 por cento, podem levar a grandes melhorias na saúde. E o melhor peso de uma pessoa com obesidade pode perfeitamente não ser o peso ideal ditado pelo IMC (índice de massa corporal)”, especifica aquela diretriz.
“Há demasiado tempo que associamos a obesidade a um comportamento e estilo de vida”, remata Ramos-Salas, depois de acrescentar que se trata de uma condição muito mais complexa do que isso. “Há demasiada culpa e vergonha envolvida. As pessoas que vivem com obesidade precisam de apoio como qualquer doente com uma doença crónica”.