“A sua função é mostrar-nos de que é feito o mundo que nos rodeia e foi a pensar nisso que foi recentemente apresentada uma versão a contabilizar a quantidade dos elementos que ainda existem e quais estão em risco”, conta Adelino Galvão, o secretário-geral da Sociedade Portuguesa de Química, ao telefone de Paris, onde integra a comitiva portuguesa que vai acompanhar as celebrações do Ano Internacional dos Elementos Químicos da Tablea Periódica, a decorrerem na UNESCO – e onde também vão estar o químico holandês Ben Feringa, Prémio Nobel da Química em 2016 e sócio honorário da Sociedade Portuguesa de Química, e o britânico Martyn Poliakoff, um dos responsáveis pelo site The Periodic Table of Videos, onde mostra experiências com elementos da tabela periódica, e que se espera em Portugal lá mais para o verão.
“Depois do Ano Internacional da Química e da Luz, fazia todo o sentido avançarmos para esta celebração”, continua o secretário-geral da SPQ, a fazer questão de lembrar as palavras sábias de Richard Feynman (“que até era físico, e não químico”), que gostava de apregoar que, a ter de salvar algo do mundo, perante uma catástrofe iminente, devia ser, exactamente, a tabela periódica. Adelino Galvão chama ainda a atenção para os maus usos que são dados aos elementos, sobretudo quando sintetizados em laboratório para fins como a guerra química ou drogas, e não como medicamentos para tratar doenças. “Também a pensar nisso concebemos recentemente a tabela da sustentabilidade, a mostrar o grau de escassez de cada um, e que aponta o dedo sobretudo aos telemóveis, que não são reciclados e são trocados a um ritmo alucinante.”
A decisão de lhe consagrar um ano internacional prende-se, então, com o reconhecimento da importância da química na sociedade, em campos como a saúde, a energia e a agricultura. Enquanto a festa oficial segue esta terça-feira em Paris, em Portugal, várias cidades, como Lisboa, Porto, Almada, Aveiro, Braga, Coimbra, Évora, Faro, Funchal, Tomar e Vila Real, vão recriar “tabelas periódicas humanas”, em que alunos, professores e funcionários de escolas e universidades vão dar corpo aos diferentes elementos.
Das bananas, telemóveis e afins
Foi em 1869 que o químico russo Dmitri Mendeleev conseguiu o feito de publicar a primeira versão da tabela periódica tal como hoje é conhecida, ao ordenar 63 elementos químicos de acordo com a sua massa atómica. Não ganhou um Prémio Nobel, mas como ‘recompensa’, após a sua morte, o seu nome foi dado a um elemento químico, o mendelévio, sintetizado pela primeira vez em 1955 – e que é um elemento metálico e radioativo sem aplicação.
A tabela periódica, como hoje a conhecemos, é dos poucos sítios em que o potássio das bananas aparece ao lado do lítio das baterias de telemóveis e também do césio dos relógios atómicos. Outros exemplos dos elementos da tabela na nossa vida? Tantos as estrelas como o Sol são feitas de hidrogénio, o elemento mais abundante do Universo, a Lua e os ossos têm cálcio, as moedas níquel, os aviões alumínio, a pasta de dentes flúor e as lágrimas e o sal sódio. Os balões coloridos que se vendem nas feiras não se enchem sem hélio, as jóias para serem valiosas ostentam ouro e o fogo-de-artifício ‘pinta’ o céu de vermelho graças ao estrôncio.
Com 118 elementos químicos atualmente, dispostos em colunas segundo o seu número atómico, que define as propriedades químicas, grande parte deles existe na natureza – os restantes foram sintetizados em laboratório. Como compara o secretário-geral da Sociedade Portuguesa de Química, Adelino Galvão, é como uma casa construída em Lego, em que as peças são todos os elementos que compõem a matéria, orgânica e inorgânica, ‘arrumados’ por ‘famílias’ em função de características químicas semelhantes, como a densidade e a radioatividade.
CURIOSIDADES
Onde pára a tabela periódica?
Na literatura, Primo Levi, o químico que passou pelo inferno dos campos de concentração durante a segunda grande guerra, escreveu um livro intitulado Il Sistema Periodico onde conta as suas inúmeras aventuras com alguns dos elementos químicos, muitas delas passadas em Auschwitz.
No pequeno ecrã a ilustre série Breaking Bad, do professor de química que vê a sua vida virada do avesso e para conseguir o dinheiro que precisa escolhe a vida criminal ao sintetizar metanfetaminas, começa com os símbolos químicos do Bromo e do Bário a saírem da respetiva localização na tabela, dando as iniciais do nome da série.
Na arte vários são aqueles que tentam recriar a tabela periódica à sua maneira até com elementos que substituam os elementos químicos e que também sejam igualmente relacionáveis.
No mundo quotidiano são várias as t-shirts com Tabelas Periódicas e com os seus elementos a formarem frases, são várias as brincadeiras que se fazem com os elementos através de desenhos e ilustrações que são fáceis de ser entendidos mesmo para aqueles que não percebam muito de química.