The Secret Life of the Human Pups conta a vida de vários homens que vivem como cachorros. “Pup Play” (brincadeira de cachorro) é uma prática que tem ganhado fama entre os membros da comunidade BDSM (Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo). Os homens, maioritariamente gays, sentem prazer em vestir-se e a agir como cachorros. Vestem-se com fatos feitos em cabedal, gostam de cócegas na barriga e nas orelhas, brincam com brinquedos de cães e comem em tigelas.
Tom durante o dia é técnico num teatro e durante a noite transforma-se num cão. Já gastou mais de 5 mil euros para aprender habilidades de cães para poder dar vida a Spot, um dálmata. Foi o grande vencedor do concurso de beleza e de talentos para adeptos desta prática, o “Mr Puppy UK” e irá participar na final europeia, que irá decorrer na Alemanha. Para Tom, “puppy play” é muito mais do que apenas mascarar-se de cão: é poder comportar-se de uma maneira natural, até primitiva. “Não estás preocupado com o dinheiro, ou com comida, ou com o trabalho”, diz Tom ao The Guardian. “É apenas a oportunidade de poder aproveitar a companhia uns dos outros de maneira simples”.
Tom descobriu esta prática quando percebeu que gostava de dormir com uma coleira e tinha um fetiche por roupas justas, fossem de licra ou cabedal. Antes de começar a levar o seu hobby mais a sério, estava noivo de uma mulher com quem ainda mantém uma relação próxima, apesar de já não estarem juntos. “Ele queria poder experimentar coisas novas e eu não compreendia isso. Eu não queria compreender”, diz Rachel, ex-noiva de Tom.
Tom está agora numa relação com Colin, o seu novo “domador” que conheceu num bar. “Eu tive um momento de pânico porque um cachorro sem coleira pode perder-se; não têm ninguém para cuidar deles. Comecei a falar com Colin pela Internet e ele ofereceu-se para tomar conta de mim. É uma coisa triste de se dizer, mas não tenho amor no meu coração para o Colin – o que eu tenho é alguém que está ali para mim e eu estou feliz com isso”.
David é um escritor e também um homem-cachorro, que vê esta atividade como uma forma de fugir ao mundo. “É um espaço instintivo e emocional. Mas em cada cachorro está uma pessoa. Esta é uma parte da minha identidade, mas é apenas uma parte. Sou também um vegetariano, toco piano, tenho um papagaio. Estive esta manhã a plantar tomates. Posso passar meses sem entrar na zona “pup””.
Por ser uma prática da comunidade BDSM, as pessoas têm tendência para pensar que o “puppy play” se trata apenas de novas experiências sexuais. “As pessoas pensam automaticamente que este é o equipamento que vestimos para fazer sexo. Já me perguntaram questões horríveis, se tinha gostado de ter sexo com cães. Mas não é isso, não é sempre sexual. Passamos imenso tempo juntos em casa apenas a ser cães”, diz Tom ao The Guardian. Mas, segundo os homem-cachorros, esta atividade vai muito além disso, “parece que podes ser gay, heterossexual, bissexual, transexual e ser aceite”, diz. “Tudo o que eu quero é que a comunidade “pup” seja aceite da mesma maneira. Nós não queremos causar aflições em público, ou causar aflições em relações. Somos como qualquer outra pessoa”.
Só no Reino Unido é estimado que cerca de 10 mil pessoas sejam adeptos desta prática. Enquanto os homens preferem vestir-se de cachorros, as mulheres preferem ser gatas.