Contados os últimos votos que a atiraram para o segundo lugar, após três horas em que na contagem surgiu sempre atrás de André Ventura, Ana Gomes optou por, depois de um pequeno mea culpa pelo resultado que obteve, adotar o estilo habitual de contra-ataque e apontar a António Costa, BE e PCP a responsabilidade pelo desfecho desta noite eleitoral
“Lamento a não comparência do meu partido, do PS; que assim contribuiu para dar a vitória à direita”, disse a candidata, que teve apoio do PAN, Livre e alguns militantes do Volt nesta corrida a Belém. A Costa, de quem disse ser “o principal responsável pela deserção do PS”, aconselhou a “tirar ilações” deste 24 de janeiro, em que parte da família socialista esteve com Marcelo Rebelo de Sousa. “A direção do PS apostou na diluição das fronteiras políticas entre a esquerda e a direita democrática. Tal diluição não serve a democracia”, salientou, frisando que Marcelo terá sido eleito pelos socialistas, já que André Ventura foi “tirar ao PSD e ao CDS” os seus votos.
Mas as máquinas partidárias de Marisa Matias e João Ferreira também não escaparam a críticas: “nestas eleições presidenciais, os partidos à esquerda preocuparam-se com as suas próprias agendas e assim concorreram para dar a vitória do candidato da direita democrática[Marcelo]”, argumentou, ao longo de um quarto de hora. “Não houvesse a minha candidatura, e elevavam a extrema direita a alterativa”, concluiu.
“Estive sempre disponível para as convergências. Era a pessoa mais bem colocada para essa convergência, não eram aqueles que cumpriam a agenda dos seus próprios partidos”, disse, tendo junto de si Isabel Soares, filha de Mário Soares e sua mandatária.
No início, Ana Gomes começou por sinalizar não ter conseguido “levar a uma segunda volta” estas presidenciais”. “Mas cumpri o meu objetivo central – o meu objetivo patriótico – impedir que a ultradireita ascendesse a uma possível alternativa”. “Se não estivesse nesta disputa, estaríamos ainda mais a lamentar a progressão da extrema-direita”.
Para a antiga eurodeputada do PS, o nível da abstenção “não pode ser atribuído apenas à pandemia”, acusando que “houve quem tivesse desvalorizado estas eleições” e quem “não tenha facultado” o pleno direito do voto, principalmente junto dos emigrantes – “que indignamente se viram impedidos de votar”.
Quanto ao seu futuro político, Ana Gomes não fechou a porta a nada. À exceção das próximas 24 horas – de que disse precisar para assimilar este processo da corrida a Belém. “Nunca me reformarei da política”, atirou.