Já passavam das 23:30 quando André Ventura desceu do seu quarto de hotel no Marriott, em Lisboa, até à sala de conferências para ocupar o lugar em frente ao microfone com uma bandeira de Portugal agarrada. 99,84% dos resultados finais da eleição já estavam apurados e davam ao líder do Chega 11,91%, o terceiro lugar, depois de Marcelo Rebelo de Sousa (60,74%) e de Ana Gomes (12,96%).
A música de fundo tornou-se mais dramática enquanto a sua equipa jurava: “Ventura, não te abandonaremos. Jamais te deixaremos caminhar sozinho” e André Ventura, de braços abertos, com gestos de messias, respondeu eufórico: “esta é uma noite histórica, em que a direita em Portugal se reconfigurou completamente”.
Perante uma audiência de pouco mais de 30 apoiantes, sentados em cadeira a dois metros de distância uns dos outros, o candidato do Chega deixou avisos a todos os partidos, da direita à esquerda: “esmagámos a extrema esquerda em Portugal”; “PSD, ouve bem: não há Governo em Portugal sem o Chega”. No fundo, “toda a noite eleitoral foi sobre nós”, diria a seguir.
Distribuiu insultos gratuitos por todos os candidatos, à exceção de Marcelo, a quem até desejou boa sorte para o segundo mandato, e de Vitorino Silva. Mas foi em João Ferreira que se concentrou em especial, uma vez que foi no Alentejo – região onde tradicionalmente o Partido Comunista consegue mais votos – que Ventura obteve a sua melhor classificação. No concelho de Mourão ficou a apenas sete pontos de Marcelo e conseguiu bons resultados também em Moura, Monforte, Elvas, Serpa e Alter do Chão. “Nem o João Ferreira me ganhou no Alentejo. Nem no Alentejo”, repetiu já rouco.
Depois do batismo das legislativas, em 2019, em que Ventura foi eleito deputado único do Parlamento, o crisma correu-lhe bem e passou de 1,9% para quase 12% (o que correspondeu a 496 653 votos) . “O Chega conheceu o seu momento maior e a força para as batalhas que se aproximam”, porque Ventura promete continuar e garante que “não haverá Governo em Portugal sem o Chega”.
Apesar da vitória recolhida, o líder da extrema-direita admitiu ter ficado aquém dos 15% que definiu como objetivo e atrás – mesmo que por uma questão de décimas – da candidata Ana Gomes e, por isso, decidiu submeter-se novamente a votos no interior do partido que criou. “Fiquei aquém dos 15% que deveríamos ter tido e a algumas décimas de diferença da candidata que representa o pior que Portugal tem e a esquerda medíocre. Por isso mesmo, não fugirei à minha palavra e devolverei aos militantes do Chega a palavra para decidirem se me querem ou não à frente deste projeto”.
Os agradecimentos foram para Deus, por o ter colocado a ele “na base deste partido”, antes de uma ovação de pé dos apoiantes e de se ouvir o hino de Portugal.
Ventura ficou à frente de Ana Gomes em 10 distritos e na Madeira
A luta pelo segundo lugar foi renhida, tendo o líder do Chega ultrapassado Ana Gomes em 10 dos 18 distritos portugueses e na região autónoma da Madeira. Foram eles: Beja, Bragança, Castelo Branco, Évora, Faro, Guarda, Leiria, Santarém, Vila real e Viseu.
André Ventura teve o pior resultado no distrito do Porto (8,42%), onde a principal adversária obteve o seu melhor resultado (Ana Gomes somou 15,58% no Porto). Já o melhor resultado foi recolher a Portalegre (20,04%).