Quando Catarina Martins assumiu a liderança do Bloco de Esquerda o partido atravessava “um momento de crise”, na sequência de “um resultado eleitoral difícil”, mas, mesmo depois do desaire das últimas legislativas (em que o BE passou de 19 para cinco deputados), Marisa Matias rejeita um possível paralelismo entre as duas ocasiões. “Temos todas as condições para sair da Convenção [Nacional, em maio] com uma liderança forte”, disse a eurodeputada bloquista, em entrevista ao Irrevogável, esta quinta-feira.
Com lugar na direção e amiga pessoal da ainda líder, Marisa Martins admite que não foi apanhada de surpresa com o anúncio da não recandidatura de Catarina Martins, nesta terça-feira, sublinhando que “concorda com o diagnóstico” feito por esta, quando disse que “o Bloco deve começar a preparação da mudança política que já aí está”. “Estamos num ciclo político diferente, que requer outra energia. Não é o tempo da construção de pontes. Embora elas nunca devam ser recusadas onde possam ser feitas e onde possam permitir avanços concretos para a sociedade”, defende Marisa Matias.
“É um período de muita tensão social e política, de um desgaste enorme de um Governo com pouco tempo”, refere por oposição ao tempo da “Geringonça”, um dos momentos-chave que associa à liderança de Catarina Martins. Por isto, a ex- candidata presidencial acredita que o partido precisa de investir numa oposição “mais ativa”.
Sobre a figura que se segue, Marisa Matias recusa falar em nomes (numa fase em que ainda não foi apresentada nenhuma candidatura), mesmo no de Mariana Mortágua, que é mais que provável que avance. A sua expetativa é que apareça mais que uma alternativa. Provavelmente, alguém que, ao contrário de Mortágua, represente uma linha mais critica do trabalho da atual direção. “As vozes críticas do partido não ficam acantonadas dentro de quatro paredes, as pessoas conhecem as suas posições”, argumenta.
Marisa Matias diz também que não chegou a equacionar a hipótese de avançar para a liderança. “Ainda estou em funções no Parlamento Europeu”, justificou. O seu terceiro mandato só termina em 2024 e assume que não se irá recandidatar, no entanto, mesmo depois disso, aponta que não tem ambições de chegar à liderança bloquista.