“Motivos pessoais” é, invariavelmente, a justificação encontrada quando se pretende anunciar a retirada de alguém da política, sem que essa pessoa seja, posteriormente, incomodada com perguntas. É pessoal, ponto final. Foi esse o motivo que a Iniciativa Liberal (IL) divulgou, a 9 de março de 2021, para encobrir uma manobra de bastidores que esteve por detrás da desistência da candidatura, apresentada três dias antes, do empresário Miguel Quintas à Câmara de Lisboa, nas Autárquicas de 2021. O caso envolveu uma ameaça de divulgação de detalhes da sua vida pessoal. Afastado da corrida e da política, o empresário avançou com uma queixa-crime contra o autor da denúncia junto dos principais dirigentes do partido. O processo, atualmente em julgamento, revela todos os pormenores das 72 horas mais agitadas do partido nos últimos anos.
“Estou aqui enquanto pai, porque acredito que através do exemplo criamos os nossos filhos na direção de desafios mais duros, mesmo sem sucesso garantido.” A frase, proferida pelo candidato no discurso de apresentação, a 6 de março de 2021, em frente aos Paços do Concelho, acabaria por ter um efeito contrário ao pretendido. É que, na manhã seguinte, Francisco Rodrigues de Oliveira decidiu enviar para vários dirigentes de topo da IL, entre os quais João Cotrim Figueiredo e Rodrigo Saraiva, um documento intitulado “Um pulha será sempre um pulha e este suposto candidato a Lisboa ainda é menos do que isso”.