De camuflado e óculos escuros, António Ramalho Eanes, 40 anos, tenente-coronel de Infantaria, faz, de helicóptero, a curta viagem entre a unidade de Comandos da Amadora e o Palácio de Belém, onde o espera o general – e Presidente da República – Francisco da Costa Gomes. Acompanha-o Alípio Tomé Pinto, outro oficial superior, camarada de armas e amigo pessoal. O País fervilha, nesta manhã cinzenta de 25 de novembro de 1975: nas ruas da Grande Lisboa está em marcha um golpe de Estado.
Pouco antes de o aparelho baixar, Eanes coloca sobre o joelho a arma que lhe é atribuída nas suas funções de oficial, uma pistola Walter de nove milímetros. Com voz dura e autoritária, interpela Tomé Pinto: “Não vens armado?” Perante a negativa, Eanes deixa escapar um palavrão. Ele não confia em brandos costumes e levou meses a preparar-se para este momento. Para ele, o Palácio de Belém pode ser uma ratoeira. Os revoltosos da extrema-esquerda militar que, na madrugada desse dia, desencadearam o golpe, parecem estar em vantagem. E não é seguro que o titubeante e ambíguo Costa Gomes penda para o lado dos moderados. Ele tinha especificamente instruído a sua equipa operacional de que não era para facilitar, instruções que, por exemplo, Jaime Neves, chefe dos Comandos, levará à letra, horas mais tarde, como veremos…
