Falta um ano para as eleições autárquicas, mas a máquina do PSD dá cada vez mais sinais de impaciência face ao calendário definido por Rui Rio. No dia 26, a concelhia social-democrata de Sintra vai a votos e uma das candidatas, Ana Sofia Bettencourt, já tem um conjunto de nomes que considera capazes de vencer a candidatura socialista encabeçada por Basílio Horta. Em declarações à VISÃO, a ex-deputada revela até que já deu conta à distrital de Lisboa das personalidades que entende indicadas para o partido ir a jogo: num primeiro plano, Fernando Seara, António Carmona Rodrigues e Hernâni Carvalho; num segundo, Miguel Poiares Maduro e Ricardo Baptista Leite.
“Não é uma questão pessoal. Há um conjunto alargado de militantes do concelho que está preocupado com o que está a acontecer. Sintra estagnou, está a perder atratividade face aos municípios vizinhos e o PSD não pode ficar agarrado a projetos requentados”, diz Ana Sofia Bettencourt, para quem tem de haver uma “outra forma” de os sociais-democratas encararem a corrida ao poder local. “Transmitmos [à distrital] que o perfil tinha de ser o de alguém para recuperar a câmara. Um perfil ganhador”, reforça a ainda vice-presidente da concelhia sintrense.
Para justificar as hipóteses aventadas, Ana Sofia Bettencourt recorda o historial de vitórias em Sintra de Fernando Seara (foi líder do executivo camarário de 2002 a 2013), a “dimensão de planeamento estratégico” de Carmona Rodrigues (independente que manteve Lisboa em mãos “laranjas” em 2005, embora tenha vindo a aproximar-se do CDS nos últimos anos) e a notoriedade de Hernâni Carvalho (que foi número um da lista para a Assembleia Municipal em 2013, quando Pedro Pinto encabeçou a candidatura à câmara).
Quanto a Miguel Poiares Maduro, a dirigente local assinala que “teve um papel fundamental” no Governo de Pedro Passos Coelho, enquanto ministro responsável pelo Desenvolvimento Regional, assim como elogia as suas intervenções públicas sobre o papel dos autarcas num País “mais descentralizado e competitivo”. Já a Ricardo Baptista Leite, “um homem muitíssimo estruturado” gaba “a competência que ficou à vista de todos” ao ser o principal pivô do PSD no que respeita à pandemia.
Ana Sofia Bettencourt evita as polémicas sobre o calendário – Rui Rio só os quer no terreno no primeiro trimestre de 2021 -, mas sublinha que, não obstante as limitações impostas pela crise sanitária, já foram pedidas “várias reuniões” ao presidente do partido para discutir Sintra. “Queríamos transmitir a perspetiva de que Sintra é um concelho importante para o PSD e que já foi do PSD, com grandes autarcas, e que urge recuperar essa credibilidade”, reforça.
Já o presidente da distrital de Lisboa, Ângelo Pereira, com o qual se reuniu em maio, nota, “reagiu registando, mas sem fazer comentários” sobre as propostas que lhe foram apresentadas. A 26 de setembro, sábado, Ana Sofia Bettencourt mede forças com Helena Coelho, tida como mais próxima de Marco Almeida, o vereador que foi vice-presidente de Seara e que voltou ao PSD em 2018, após a desfiliação na sequência da candidatura independente, contrária à do partido, em 2013.
Após a publicação original deste artigo, fonte oficial da candidatura de Helena Coelho refutou a conotação a Marco Almeida e assegurou à VISÃO que em março foi tentada uma “lista de consenso”, que unisse as duas correntes de Sintra. Aí, contou o mesmo interlocutor, a linha de Ana Sofia Bettencourt terá imposto a assinatura de um documento em que se excluiria à partida o apoio a Marco Almeida. Helena Coelho terá alegado que não embarcaria em “projetos de ódio” em relação a nenhum candidato e o acordo terá caído ainda antes de ser forjado.