Luís Gomes foi presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António durante 12 anos. Atingiu o limite de mandatos e, em 2017, decidiu dedicar-se à música. Já este ano, o cantor, que faz dupla com o cubano Baby Lores, foi contratado pela autarquia que chefiou para um espetáculo na freguesia de Monte Gordo, que custou 13.530 euros ao município (11.000 pelo serviço, aos quais acresceram 2.530 de IVA).
Segundo o portal Base, onde são publicados os contratos celebrados pelos organismos públicos, a Câmara de Vila Real de Santo António, agora liderada por Conceição Cabrita (vice-presidente de Luís Gomes no último mandato), fez a adjudicação do concerto da noite de 10 de fevereiro por ajuste direto à empresa Dose de Sucesso, Lda., que agencia a banda Baby Lores & Luís.
Em declarações à VISÃO, o antigo deputado (entre 2002 a 2005) e ex-presidente da distrital do PSD-Faro diz que “é evidente que não há conflito de interesses” naquela contratação, mesmo tendo sido a sua antiga vice a validar o acordo. “Eu não tenho nenhuma relação com a Câmara”, justifica, antes de frisar que a adjudicação foi feita para “a produção do concerto”, o que terá incluído também os serviços de som e de luzes.
“Aquilo [os 11 mil euros] não é o cachet da banda Baby Lores & Luís! É o concerto de Baby Lores & Luís mais som, luzes, vídeo e essas coisas, que normalmente não são os artistas que pagam”, reforça Luís Gomes, que, após fazer as contas àquela noite, garante ter recebido “menos de mil euros” pelo espetáculo. “Aquilo que recebi foi o balúrdio de 900 euros e qualquer coisa”, ironiza o social-democrata. “Foram 950 euros, mais ou menos, posso provar”, acrescenta.
Conceição Cabrita também desvaloriza a contratação do duo cujo principal sucesso, “Dime por que“, integra a banda sonora da telenovela da TVI “A Herdeira”. “Estou tranquila, estou descansada com isso”, assegura a chefe do executivo local, que sublinha ter-se tratado de “uma decisão perfeitamente normal”. Para a autarca do PSD, Luís Gomes “é um artista como outro qualquer”, até porque “já não pertence à Câmara Municipal” e “tem sido contratado por muitos outros municípios em vários pontos do País”.
“Não tem nada a ver com o facto de eu ter sido vice-presidente dele”, salienta ainda Conceição Cabrita, que se socorre do facto de Luís Gomes ter atuado no dia seguinte em Castro Marim (onde o ex-autarca, refira-se, é agora deputado municipal). Quanto a esse concerto, refere por sua vez Luís Gomes, inseriu-se apenas numa ação de “solidariedade” promovida pela junta de freguesia e não foi objeto de qualquer contrapartida financeira. O mesmo, finaliza o ainda presidente da Mesa Assembleia Distrital de Faro do PSD, aconteceu “dezenas de vezes também em Vila Real de Santo António”.