Em Portugal, a ofensa foi generalizada. Para António Costa, Jeroen Dijsselbloem foi “racista, sexista e xenófobo” (palavras que assustam particularmente uma Europa a braços com o crescimento da extrema direita populista e a xenófoba).
Mas o primeiro ministro não foi o primeiro nem o último a cair em cima do presidente do Eurogrupo, que disse, numa entrevista ao jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung, referindo-se aos países do sul, “que não se pode gastar em mulheres e álcool e, depois, pedir ajuda”. Os protestos alastraram-se rapidamente.
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, defendeu de imediato que o presidente do Eurogrupo não tinha “condições para permanecer à frente do Eurogrupo”. Marcelo Rebelo de Sousa deixou os afetos de lado e também se colocou ao lado do governo no pedido de demissão. Em Bruxelas, o socialista Carlos Zorrinho (que pertence à mesma família política de Djisselbloem) defendia que o presidente do Eurogrupo devia sair pelo seu próprio pé.
Enquanto se multiplicava a fúria contra o senhor (“atrasado mental”, chamou-lhe Duarte Marques, do PSD; “parvalhão”, disse Pedro Filipe Soares, do BE; “traste”, caracterizou Porfírio Silva, do PS), os partidos iam fazendo chegar, à mesa da Assembleia da República, votos de condenação firme e o pedido de demissão imediata do presidente do conselho de ministros das Finanças da zona euro.
Jeroen Dijsselbloem está, definitivamente, na berlinda. Saiu-lhe a lotaria negra. Tudo o que lhe podia ter corrido mal… correu mesmo. Nas eleições legislativas do seu país (a Holanda), há 15 dias, o Partido Trabalhista a que pertence (e que está em coligação no governo) teve uma pesada derrota, ao passar de 38 para 9 deputados. É pouco provável que, quando Mark Rutte conseguir formar novo governo, o volte a convidar para ministro das Finanças. Depois, na semana passada, a frase assassina – “não se pode gastar em mulheres e álcool e, depois, pedir ajuda”.
Uma semana depois de se assistir a um país inteiro a bater em Jeroen Dijsselbloem, o Partido Popular Europeu apresentou, formalmente, o pedido de demissão do presidente do Eurogrupo. O senhor que se deverá seguir é Luis de Guindos, o ministro das Finanças espanhol.
António Costa tinha dito que “Europa só será credível enquanto projeto comum no dia em que o sr. Dijsselbloem deixar de ser presidente do Eurogrupo”. Será agora?