Putin, um homem perigoso
No sábado, dia 9 de maio, Vladimir Putin invocou o fim da II Guerra Mundial, mostrando, simultaneamente, a contribuição dos aliados para a vitória sobre os nazis. Ao mesmo tempo, e na presença somente do Presidente chinês Xi Jinping – os europeus este ano faltaram à cerimónia -, fez desfilar toda uma enorme parada militar, digamos impressionante, a maior desde o fim da União Soviética. Desfilaram 16 mil militares, 143 caças e helicópteros e 194 novos tanques. Ou seja, tratou-se de uma demonstração inequívoca de grande força e poder militar. Daí a impressão de que a Rússia estará a preparar-se para uma nova guerra e não para a paz. Tudo isto a propósito do conflito com a Ucrânia e da violação do espaço aéreo de vários países europeus, entre os quais Portugal.
Putin foi, no tempo da URSS, um agente dos serviços secretos do KGB, ou seja, a polícia secreta da União Soviética. Com o passar dos anos, a União Soviética deixou de ser uma ditadura, com Mikhail Gorbachev, que tive a honra de conhecer pessoalmente, como antes conhecera Leonid Brejnev, que foi o Presidente dito da détente, por ter querido restabelecer relações entre a Rússia e a Europa. Foi com ele que falei da intenção de Álvaro Cunhal querer fazer de Portugal a «Cuba do Ocidente», coisa que Brejnev rejeitou em absoluto, estando como estava na détente em relação ao Ocidente.
Voltando a Putin. Ao contrário do que sucedeu em 2005, em que teve ao seu lado os principais líderes europeus nas comemorações do fim da II Guerra Mundial, no sábado, 9 de maio de 2015, esses mesmos líderes não aceitaram o convite, invocando o conflito no Leste da Ucrânia e acusando o Presidente Putin de continuar a apoiar os separatistas pró-russos.
Putin quis ter um relacionamento privilegiado com a senhora Merkel, que era comunista quando estava na Alemanha de Leste. Contudo, os europeus obrigaram-na a estar com a Ucrânia, cortando a relação especial que tinha com o Presidente russo.
No domingo, 10, a seguir à parada militar, houve em Moscovo uma homenagem ao soldado desconhecido. Ao lado de Putin, a senhora Merkel, pressionada pelos europeus, disse: «Foram a anexação criminosa da Crimeia e os confrontos militares no Leste da Ucrânia, que violam o Direito Internacional, que fizeram com que a cooperação tenha sofrido um sério revés…»
Sendo um homem difícil e hoje Presidente da Rússia, Putin tem o seu poder, que não é pequeno. Terá deixado de ser comunista, porque hoje, partidos comunistas, só há em raríssimos Estados, como em Portugal. Putin sabe disso muito bem e é um homem voltado para o futuro e não para o passado. Mas a questão da Ucrânia criou-lhe um grande problema. E isso pode vir a ter consequências mais graves como a do assassinato de Boris Nemtsov, líder da Oposição russa, ocorrido em 27 de fevereiro deste ano. Veremos. Mas tudo leva a crer que Boris Nemtsov tinha provas da participação da Rússia no conflito do leste ucraniano.
Em conclusão, Vladimir Putin é um homem perigoso. Ou, como dizem os brasileiros, um homem astuto, perigoso e imprevisível.
Artigo publicado, na seção Ensaio, na edição de 14 de maio de 2015