O episódio aconteceu à margem da mega-operação de resgate das 12 crianças e de um adulto de uma gruta na Tailândia, em julho do ano passado. Elon Musk, dono da Tesla, prontificou-se a levar até à equipa de resgate um submarino desenvolvido pela sua empresa que poderia ser usado na operação de resgate que prendeu a atenção mundial durante vários dias e Vernon Unsworth, um dos mergulhadores no terreno, ridicularizou a ideia. Musk recorreu então às redes sociais para atacar o britânico e, pelo caminho, chamou-o de “pedo guy”, uma expressão que se pode traduzir por “pedófilo”. Durante o julgamento, que começou esta terça-feira, em Los Angeles, o advogado de Musk disse que tudo não passou de “tweets jocosos num combate entre homens”.
As primeiras crianças já tinham sido retiradas da gruta quando, a 10 de julho de 2018, Musk apresentou o seu submarino ao mundo. Em tempo recorde, os engenheiros da Tesla tinham desenvolvido um equipamento do tamanho de uma criança que, de acordo com a empresa, poderia transportar uma pessoa de cada vez e ajudar a que todos os rapazes fossem transportados para o exterior em segurança.
O submarino acabaria por não ser utilizado e, já depois de a operação estar concluída com sucesso, o mergulhador Vernon Unsworth comentou a proposta de Musk. “Ele pode enfiar o submarino onde lhe doa”, reagiu o britânico, considerando que a ideia não passava de uma “manobra de relações públicas” do responsável da Tesla e alegando que o equipamento não teria condições de cumprir a missão a que se propunha.
Musk não gostou dos comentários e, no twitter, onde é seguido por cerca de 30 milhões de utilizadores, publicou uma mensagem: “Vamos fazer um [vídeo] do mini-submarino/cápsula a percorrer todo o caminho até à câmara 5 [onde estavam as crianças] sem problemas. Lamento, pedófilo, estavas realmente a pedi-las”, escreveu a 15 de julho. Foi esta a mensagem que levou Unsworth a recorrer à Justiça, com um processo por difamação contra o controverso empreendedor. Dias depois, Musk ainda tentou corrigir a mão. Novamente no Twitter, escreveu que, as ações do britânico contra si “não justificavam” o comentário que tinha partilhado e pedia “desculpa” a Unsworth e às empresas a que o próprio empresário está ligado, como a SpaceX CEO. “A responsabilidade é minha e apenas minha.”
Comentários não eram “factuais”
Esta terça-feira, no primeiro dia de julgamento, com Musk presente na sala, o seu advogado procurou enquadrar o episódio. Citado pelo The New York Times, Alex Spiro considera que se tratou de “insultos, não de matéria de facto”.
O comentário de Musk sobre alegados atos pedófilos de Unsworth “não foi uma alegação de um crime”, mas apenas “tweets jocosos num combate entre dois homens”, defendeu o advogado, Aliás, acrescentou, a expressão usada – “pedo guy” – será usada regularmente na África do Sul, país onde nasceu Elon Musk e de onde saiu aos 17 anos. “A expressão ‘pedófilo’ também é usada noutros países. É bastante comum no universo anglosaxónico. Acredito que, se fizer uma pesquisa, apenas encontrará a referência a um ‘homem velho e estranho’”, acrescentaria o próprio empresário no tribunal.
Conhecido tanto pelas suas criações tecnológicas como pelo seu espírito irreverente, Musk foi questionado pelo advogado de Unsworth sobre se, dada a sua capacidade de influência mediática, não deveria pesar melhor as suas palavras. “Digo muitas coisas e nem todas têm a mesma qualidade de ponderação.. nem tudo pode ser ponderado”, retorquiu o empreendedor.
Musk ainda teve oportunidade de reagir à ideia de que a ideia do submarino não passou de uma estratégia para dar palco mediático às suas empresas. Quando divulgou o equipamento, já um dos mergulhadores envolvidos na operação tinha morrido na gruta, por privação de oxigénio e esse terá sido o ponto de mudança da atitude do empresário. “Se não fosse tomada uma ação imediata, os rapazes iam morrer. Isso ficaria para sempre na minha consciência”, alegou Musk. “Tinha de fazer alguma coisa, temos de tentar”, defendeu em tribunal. Quando viu a sua proposta ser desvalorizada por Unsworth, o empresário considerou que se tratava de um “ataque não provocado”, e reagiu. O julgamento vai prolongar-se, pelo menos, até ao final da semana.