A comunidade do espaço não perde de vista a missão Falcon Heavy, que enviou rumo a Marte um descapotável vermelho da marca Tesla, pondo rodas ao sonho do milionário Elon Musk de enviar seres humanos até ao Planeta Vermelho.
Apesar de a webcam a bordo do Tesla ter deixado de transmitir, isto não significa que o viajante espacial se tenha tornado invisível. Um ponto brilhante, a 720 mil quilómetros da Terra (praticamente o dobro da distância da Lua), foi apanhado pelo sistema de vigilância de detritos espaciais da empresa Deimos Space. “Nesta zona do espaço não havia nada mais a não ser estrelas”, explica à VISÃO Noelia Sanchez, responsável pelas atividades de vigilância espacial da empresa e especialista de referência a nível europeu no setor. “Apontámos os nossos telescópios para a órbita prevista e conseguimos apanhá-lo”, revela. A intensidade do brilho indica que o carro desportivo continua agarrado ao andar superior do foguete e a oscilação nesse brilho diz-nos que o veículo está a girar pelo espaço.
A deteção foi feita pelos equipamentos de Space Surveillance and Tracking (SST – vigilância espacial e seguimento), destinado à pesquisa de lixo espacial (lixo esse que é composto por satélites inoperacionais, restos de missões espaciais, telescópios em fim de vida…). “O sistema é fundamental para a proteção dos cidadãos e vigilância dos satélites”, sublinha Nuno Ávila Martins, responsável pela Deimos Engenharia, a filial portuguesa do grupo Elecnor.
Em agosto do ano passado, uma resolução do Conselho de Ministros determinou a criação, na dependência do ministro da Defesa Nacional, de uma estrutura temporária designada por Grupo de Projeto Space Surveillance and Tracking para a monitorização, classificação e previsão das trajetórias de objetos em órbita da Terra. Depois dos programas europeus Galileo (rede de satélites para orientação geográfica, alternativa ao americano GPS) e Copernicus (observação da Terra), estará prestes a nascer o programa de vigilância e rastreamento de objetos espaciais.
“A Deimos participa no programa de SST, contribuindo todas as noites com mais de 30 mil medições de objetos em redor da Terra”, avança o engenheiro aeroespacial. Portugal, pela sua situação geográfica, acaba por ter uma posição estratégica na vigilância espacial, sobretudo a partir dos arquipélagos da Madeira e dos Açores.
Um interesse que vai muito álem do sonho de Musk.