Andar de carro não é uma opção por estes dias em Houston, no sul do Texas, cidade transformada em rio agitado ou lago aparentemente tranquilo, conforme os locais.
As autoridades recebem mais de mil pedidos de ajuda por hora e são incontáveis os que ficaram presos nos locais onde se encontravam no momento da chegada do furacão Harvey.
À volta do hotel Marriott Courtyard, como um pouco por toda a cidade, só se vêem carros abandonados e… água, pois claro. Por isso foi um choque para a gerente do hotel ver, na segunda-feira à noite, pouco depois da meia-noite, chegar ao lobby um homem. Vinha a correr e pedia ajuda, recorda Crystal Manker ao Washington Post: Na parte de trás da sua carrinha estava uma mulher. Prestes a dar à luz.
Os funcionários do hotel apressaram-se a acompanhá-lo, com água até à cintura, até ao sítio onde tinha parado a carrinha. Lá estava a parturiente e o marido. Já voltamos a este ponto da história, mas antes conte-se como o casal foi parar ao veículo de um perfeito desconhecido: Desperado, com o nascimento iminente do filho e a impossibilidade de sair de casa, o homem recorreu ao Twitter para pedir ajuda. E foi aí que entrou em ação o “anjo”, palavra da gerente do hotel, que entrou esbaforido no Courtyard. Depois de ler o tweet, decidiu meter-se a caminho – estava relativamente perto – com um amigo.
O primeiro destino em mente era o Hospital Pediátrico do Texas, mas não tardou a tornar-se claro que o transbordado rio Brays Bayou não ia permitir levar o plano adiante. A água era demasiado profunda para continuar. Nesse momento, viram o hotel.
Manker recorda que só depois de 10 minutos ao telefone conseguiu falar com o serviço de emergência e o que se passou a seguir na realidade não é inédito na ficção: a operadora do 911 pediu que voltassem ao contacto quando as contrações fossem mais próximas (estavam de oito em oito minutos). Nessa altura, era claro que aquele hotel isolado por um furacão ia ser palco de um nascimento.
Em menos de nada, uma cama foi levada para a sala de reuniões do piso térreo e apareceram lençóis, toalhas, água, almofadas e tesouras. A gerente lembrou-se que tinha três enfermeiras hospedadas (ou melhor, refugiadas, porque tinham fugido do Residence Inn do lado na manhã do dia anterior) e foi chamá-las, apesar de nenhuma tê-las ter qualquer experiência de obstetrícia.
Quando as contrações ficaram com dois minutos de intervalo, ligaram novamente para o número de emergência. Estava tudo a postos quando apareceu um camião enorme. Prestes a dar à luz, a mulher foi ajudada por vários homens e transportada, agora sim, para o hospital.
O Washington Post não conseguiu ainda apurar como terminou esta história. Mas é, para já, a história de como dois homens saíram em plena tempestade para responder a um pedido de socorro que viram no Twitter.