Mal se confirmaram os resultados eleitorais na Flórida e no Ohio, dois dos chamados swing-states, aqueles que os especialistas garantiam poder ditar o desfecho em favor de Donald Trump, a ideia de que se aproximava uma catástrofe passou pela cabeça de milhares de norte-americanos. Só assim se explica que em poucas horas a página eletrónica dos serviços de imigração do Canadá tenha ficado bloqueada. “Lamentámos que tenha vindo parar aqui”, lia-se no site www.cic.gc.ca, com um pedido de desculpas por não conseguir encontrar o endereço procurado.
Ao longo do dia de ontem, de resto, uma das expressões mais pesquisadas no Google era “move to Canada” (mudar para o Canadá). A questão canadiana entrou na campanha eleitoral americana por via de várias figuras públicas, a maioria delas ligada à música e ao cinema, que chegaram mesmo a dizer que, caso Trump fosse eleito, emigravam. E o Canadá, até por razões de proximidade, era a hipótese avançada por muitos deles, ou delas, como foi o caso das atrizes Brittany Snow (Um Ritmo Perfeito), Lena Dunham (da série Girls) ou a estrela da Disney, Raven- Symoné. Outras, como Miley Cyrus ou Whoopi Goldberg, não se mostravam esquisitas quando ao destino, desde que fosse longe de Trump. Sem papas na língua, o ator Samuel L. Jackson dizia em dezembro de 2015 que ia – ou vai – para bem mais longe. “Se esse filho da mãe se tornar presidente eu levo o meu cu preto para a África do Sul”, atirou.
No Twitter, o caso do crash do site dos serviços de imigração canadianos também esteve na ordem do dia. O tópico #MeanwhileInCanada (entretanto no Canadá) foi um dos que teve mais comentários. E na conta oficial do país naquela rede social chegou mesmo a surgir uma alfinetada a Donald Trump. “No Canadá os imigrantes são encorajados a trazer as suas tradições culturais e a partilhá-las com os outros cidadãos”, dizia a nota.
Aliás, o sentido de humor é coisa que não parece faltar aos irmãos do norte. Em fevereiro, e de forma premonitória, o turismo da ilha de Cabo Bretão promovia aquela província da Nova Escócia como “um refúgio tranquilo para os americanos que queiram fugir caso Trump conquiste a Casa Branca”.
O jornal britânico The Independent também brincou com o tema e até publicou um artigo dedicado aos americanos e a dar-lhes oito razões pelas quais deviam ir todos para o Canadá, país que designou como “o farol liberal da América do Norte”. Entre os vários argumentos estavam as belas paisagens e estradas épicas, as grandes e agradáveis cidades, os desportos de inverno, como o ski e o snowboard, e algumas bizarras como “o xarope de ácer, que os canadianos colocam em tudo, desde as panquecas, ao café, aos feijões ou ao bacon”.
Sob a presidência de Justin Trudeau, o Canadá tem sido um dos mais ativos países a acolher refugiados de diversos países. O Governo organizou mesmo uma campanha de boas vindas aos que fogem da guerra na Síria e tem sido elogiado pela forma calorosa como os recebe. Afinal, talvez Trump tenha de repensar a construção do muro na fronteira com o México, para impedir a entrada de emigrantes no país, e seja conveniente deslocá-lo para norte, para impedir as saídas dos compatriotas. Ou então fazer um a toda a volta.