As forças de segurança turcas já detiveram 103 generais e almirantes desde o golpe de Estado falhado de sexta-feira e prossegue a “grande limpeza” que o Presidente Recep Tayyp Erdogan pôs em marcha.
O Presidente turco já admitiu reintroduzir a pena de morte para punir os golpistas, enquanto os países aliados da Turquia têm alertado o chefe de Estado contra o uso excessivo de força e apelado ao respeito do Estado de direito.
No total, cerca de 6.000 militares já estão sob custódia policial, acusados de participar no golpe e de apoiar ou pertencer à rede do pastor turco exilado nos Estados Unidos há 27 anos, Fethullah Gulen, causado por Erdogan de ter fomentado a tentativa de golpe de Estado. Gulen, por seu lado, negou qualquer envolvimento e não descartou a possibilidade de ter sido o próprio Presidente turco a organizar o golpe.
Os 103 generais e almirantes foram detidos em rusgas por todo o país, informaram os media oficiais, segundo os quais os militares estão agora a ser presentes a tribunal, onde será decidido se ficam em prisão preventiva.
Quase 3.000 mandados de detenção foram emitidos contra juízes e procuradores desde a tentativa de golpe, que oficialmente fez pelo menos 290 mortos, entre os quais mais de 100 golpistas.
A direção geral de Segurança da Turquia anunciou também hoje que já suspendeu 7.850 agentes por suspeita de ligação ao golpe falhado, segundo a edição eletrónica do diário Hürriyet.
Unidades da polícia antiterrorista de Istambul estiveram hoje na academia da força aérea da metrópole, em busca de partidários do golpe, anunciou a agência Anadolu, citada pela AFP.
O general Mehmet Disli, que conduziu a operação que resultou na captura do chefe do Estado Maior do Exército, Hulusi Akar, durante a tentativa de golpe de Estado, foi também detido, informaram responsáveis turcos.
Um total de 36 generais foi detido até ao momento e a agência Dogan informou que 10 deles foram colocados em prisão preventiva pela justiça.
Erdogan apelou aos cidadãos que se mantenham nas ruas, mesmo depois de derrotados os golpistas, naquilo que as autoridades descrevem como uma “vigília” pela democracia.
Novas manifestações de apoio ao presidente ocorreram por todo o país no domingo à noite, segundo a AFP.
Milhares de apoiantes de Erdogan, empunhando bandeiras da Turquia, encheram a praça de Kizilay, em Ancara, e a praça Taksim, em Istambul.
A agência Anadolu informa que 1.800 agentes das forças especiais de elite da polícia foram enviadas de outras províncias para garantir a segurança em Istambul.
O diretor de segurança de Istambul, Mustafa Caliskan, ordenou aos seus agentes que derrubem qualquer helicóptero não autorizado que sobrevoe a cidade.
Segundo a agência Anadolu, Erdogan deu ordem a aviões de combate F-16 para que patrullhem o espaço aéreo de todo o país, especialmente em torno de Istambul.
Onze militares suspeitos de envolvimento no golpe foram detidos domingo no aeroporto de Sabiha Gokcen, em Istambul e registaram-se confrontos entre golpistas e forças de segurança numa base aérea da cidade central de Konya.
Quase 9 mil pessoas despedidas
Segundo a agência, que cita fonte do Ministério do Interior, foram despedidos 4.500 polícias e 614 gendarmes, no total de 8.777 pessoas.
O Governo turco, liderado pelo Presidente Recep Erdogan, afastou também um governador provincial e 29 de outros tantos municípios, acrescentou a Anadolu.
Os despedimentos surgem no quadro de uma vasta purga do aparelho do Estado desencadeada por Erdogan após a fracassada tentativa de golpe de Estado de sexta-feira para sábado, protagonizada por militares.
Magistrados portugueses condenam detenção de milhares de juizes e procuradores
O Sindicato dos Magistrados do Ministério Público (SMMP) condenou hoje a detenção de juízes e procuradores turcos na sequência da tentativa de golpe de Estado que ocorreu na Turquia e solidarizou-se com os colegas daquele país.
“O SMMP expressa assim todo o seu apoio público aos colegas turcos saudando-lhes a coragem e a combatividade necessárias para resistir ao desmoronamento do Estado de Direito e à ofensiva que visa intimidá-los e atentar contra a sua dignidade pessoal e institucional, apoiando-os nas formas de luta que se mostrarem necessárias”, diz um comunicado emitido pelo sindicato.
Segundo o SMMP, 2745 magistrados turcos foram suspensos das suas funções a seguir ao “golpe fracassado” e cerca de duas centenas de magistrados foram presos ou estão em vias de o serem.
A estrutura sindical considera que “a comunidade internacional e os Magistrados Europeus para a Democracia e as Liberdades não podem deixar de repudiar tal estado de coisas e de militar na denúncia das arbitrariedades graves que têm vitimado os magistrados turcos e por isso é seu dever fazer esta denúncia de modo público, divulgá-la e reportá-la às instâncias nacionais e internacionais competentes e a todos os defensores da liberdade e do Estado de Direito democrático”.
O SMMP pede a todos os magistrados do Ministério Público que apoiem os colegas turcos, pedindo a sua imediata libertação junto das organizações não governamentais, junto das instituições judiciárias e políticas e nas redes sociais.
“Eles são hoje as vítimas visíveis da luta pela independência judicial e não podemos remeter-nos à condição de espectadores silenciosos. Não há férias para essa luta!”, diz o comunicado.
O SMMP é membro fundador do Movimento Europeu de Magistrados para a Democracia e as Liberdades (MEDEL), que inclui a organização turca de juízes e procuradores, YARSAV, como membro.
O Medel também emitiu um comunicado a solidarizar-se com os magistrados e juízes turcos detidos e a exigir a sua libertação imediata.