“Vermos tanta gente acaba por incentivar à mudança, significa que as pessoas estão conscientes, estão despertas e estão prontas para continuar a luta por um país melhor”, afirmou Margarida Agostinho, de 23 anos, estudante de mestrado em migração.
Em declarações à agência Lusa, a jovem considerou que “faz todo o sentido” a mobilização da sociedade mesmo em tempos de pandemia, manifestando preocupação quanto às dificuldades em encontrar trabalho.
“O que sinto é que a nossa geração é a geração, se calhar, com mais estudos e a geração que sente mais dificuldade em encontrar emprego na área, portanto os nossos pais e nós canalizamos muito investimento para conseguirmos estudar e licenciar-nos e depois encontramos só obstáculos para conseguirmos realmente prestar as nossas capacidades para dinamizar o nosso próprio país”, expôs.
Já a irmã desta jovem, Andreia Agostinho, de 27 anos, tem experiência no mercado de trabalho, ainda que num ‘part time’, do qual foi despedida em consequência do impacto da pandemia.
“Com esta alteração dos horários e com o fecho dos centros comerciais, as pessoas que tinham os horários mais pequenos foram todas dispensadas e só as pessoas efetivas realmente ficaram”, contou.
Cumprindo com o uso obrigatório de máscara e com o distanciamento físico, através da marcação do espaço com uma pequenas bandeirinhas azuis fixadas no relvado, a Alameda Afonso Henriques, em Lisboa, acolheu alguns milhares de pessoas, estima-se que mais de cinco mil pessoas, mas o número exato ainda não foi divulgado oficialmente.
Entre os manifestantes, Maria Martins, de 69 anos, surge com um cartaz sobre o corpo e com cravos vermelhos, em representação da liberdade conquista em Abril de 1974. Veio de Casal de Cambra, em Sintra, distrito de Lisboa, para manifestar indignação contra o Centro Nacional de Pensões, por considerar que está a ser “roubada à descarada”.
“Os velhos no meu país são muito maltratados e estou a ser maltratada e sinto que há ladrões dentro da Nacional Pensões”, indicou a reformada, referindo que o marido, que já morreu há 15 anos, fez 46 anos de desconto e ela própria tem 38 anos de descontos, mas a pensão que recebe é de apenas 194 euros.
Já vacina contra a covid-19, a lisboeta Maria Rapagão, de 81 anos, fez questão de marcar presença na luta dos trabalhadores, à semelhança do que tem feito todos os anos.
“Porque assisti ao 25 de Abril, que foi a coisa mais bonita que podia ter acontecido, e porque sempre festejei o 1. de Maio”, justificou.
Também participante ativa, Maria Eugénia Ferrão, de 56 anos, decidiu deslocar-se da Covilhã, distrito da Castelo Branco, para a manifestação em Lisboa. É professora e investigadora do ensino superior e diz que sempre que pode participa nos desfiles do 25 de Abril e do 1.º de Maio.
“Porque acho que é muito importante, para além de todos os dias fazermos testemunho daquilo que é viver em liberdade e em democracia, mas aproveitar estas datas para coletivamente podermos manifestar os valores e os princípios de Abril e principalmente neste 1.º de Maio afirmar, uma vez mais, a importância da dignificação do trabalho, porque a dignificação do trabalho contribui para a dignificação da pessoa, do ser humano”, defendeu.
Sobre a situação pandémica da covid-19, Maria Eugénia Ferrão disse que, “metaforicamente, há muitas pandemias”, referindo que cada um deve “utilizar a inteligência e todas as capacidades que estão inerentes ao ser humano para permanecer com dignidade no dia a dia”.
Como “filha do 1.º de Maio”, porque os pais eram sindicalistas e desde pequenina que participa nas celebrações, Irina Santos, de 39 anos, mantém-se na luta. Em 2020 não participou devido à pandemia, mas este ano decidiu voltar com a companhia do costume, o pai, uma vez que já foi vacinado.
“Temos de lutar sempre pelos nossos direitos e pelo nosso trabalho”, apontou a trabalhadora, que soma dois empregos “para ter um salário digno para sobreviver”.
Organizada pela Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses – Intersindical Nacional (CGTP-IN), a manifestação do 1.º de Maio — Dia do Trabalhador decorreu sob o lema “lutar pelos direitos, combater a exploração”, reafirmando a defesa do emprego, do crescimento dos salários, do horário semanal de 35 horas e da melhoria dos serviços públicos.
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