Antes de emitir recomendações sobre serviços digitais como a Uber ou o Airbnb, a Comissão Europeia tratou de saber o que são, na realidade, estas empresas. A Uber é uma empresa de transportes ou uma plataforma eletrónica?
“O cliente contrata o serviço ao motorista e a Uber, o que faz, é pô-los em contacto. Não é uma empresa de transportes, é uma plataforma eletrónica que, através de uma aplicação, liga pessoas que se querem deslocar nas cidades a pessoas que estão disponíveis para as transportar”, explicou, recentemente, à VISÃO, Rui Bento, diretor geral da empresa em Portugal.
Nesse sentido, e ainda de acordo com o diretor geral da empresa, a Uber limita-se a prestar um serviço a “operadores de mobilidade licenciados”, sejam empresas com uma frota de carros e um conjunto de motoristas, seja um empresário em nome individual, como os motoristas de táxi letra A ou letra T.
Pelo serviço que a Uber presta, estes parceiros, como lhes chama a empresa, pagam 25% do valor de cada corrida à empresa com a qual assinaram contrato: a Uber BV, sediada na Holanda. É assim em todos os países da União Europeia.
Ainda esta semana, o jornal The Guardian noticiou que a Uber UK pagou 454 mil euros de impostos em 2015, embora tenha tido receitas de quase 28 milhões de euros. As comissões pagas pelos motoristas são encaminhadas para a Holanda.
É de referir, no entanto, que o aproveitamento de uma fiscalidade mais favorável, como a da Holanda, não é, de todo, algo inovador. Em Portugal, por exemplo, a esmagadora maioria das empresas do PSI 20 têm sede naquele país.
A Comissão Europeia viria a abrir as portas à Uber, recomendando aos Estados-membros, em junho deste ano, que não proíbam este tipo de plataformas. Mas a discussão sobre a sua regulamentação ainda vai no adro. Com a questão dos impostos à mistura.
O que diz a Uber Portugal
A filial portuguesa da Uber explica que o facto de todas as transações entre cliente e motorista, através da plataforma, serem “rastreáveis”, torna o seu sistema transparente.
“Todas as viagens feitas com a plataforma da Uber em Portugal incluem IVA à taxa legal em vigor de 6% para transporte de passageiros e aluguer de veículo com motorista. No final de cada viagem é gerada uma fatura eletrónica, emitida em nome do parceiro que prestou o serviço de transporte, através de uma plataforma eletrónica homologada pela Autoridade Tributária portuguesa. Esta fatura inclui a informação fiscal do utilizador, que pode ser adicionada à sua conta Uber”, explica a empresa.
Portanto, os parceiros da Uber (empresas ou motoristas) pagam IVA e, prestando um serviço em Portugal, deverão cumprir as suas obrigações fiscais no nosso País.
Recentemente, o secretário de Estado adjunto e do Ambiente, José Mendes, garantia à VISÃO que a única coisa que está fora do registo fiscal português é a parte do serviço de intermediação da plataforma, uma vez que tem sede em Amesterdão. Ou seja, os lucros e os dividendos da Uber são pagos lá.
A Uber BV, sublinha a filial portuguesa, “como uma empresa internacional com operações em múltiplos países, cumpre com todas as suas obrigações fiscais e com as regras de tributação internacionais e da União Europeia”.
Já a Uber Portugal, que emprega seis pessoas, tem sede em Lisboa e “cumpre com todas as suas obrigações fiscais no País”, garante a empresa.