Que relação tinha com Cardoso Pires?
Uma relação de admiração. Não era um conhecedor profundo da sua obra: tinha lido os romances mais conhecidos, gostava sobretudo do Alexandra Alpha. Depois de escrever Integrado Marginal, acredito que a obra-prima de Cardoso Pires é O Delfim. Apesar de acreditar que os textos literários valem por si, a informação extra faz-nos compreender o que estes representam em termos de inovação e de rutura, como era o caso. E este foi o único momento em que, deliberadamente, dei a minha opinião na biografia. Até para o defender de críticas mal-intencionadas ou irrelevantes da altura, que são o equivalente a olhar para uma pulga e não ver o cão.

Reencontrou o autor perfecionista?
Completamente. E também a sua tranquilidade em relação à reescrita da obra. Ao contrário de outros autores que acreditam que o feito fica para o bem e para o mal, Cardoso Pires não achava que a obra estivesse concluída. Era perfeitamente legítimo um autor regressar à obra e alterá-la. “Quem quiser ler o livro como ele estava escrito, vai à primeira edição, vai a uma biblioteca. Mas eu leio, vou crescendo, e um filho meu vai crescendo também!”, dizia. E muitas vezes ele alterou as suas obras para melhor, e não acreditava que o ser lento tornava os seus livros melhores: apenas era assim.