Aos poucos, a sala que “nunca esteve tão vazia a esta hora da noite”, na opinião de vários “habitués”, começou a encher e o bruáá a crescer de tom. Já quase não há cadeiras vazias e as mais cobiçadas são as que têm vista para as televisões, de onde não saem os olhos. O tom é de funeral e já se ouve o ruído da cabeça de Pedro Nuno Santos a tombar.
Pelas 22h30 o empate técnico mantém-se e sem isso estar esclarecido sabemos que o líder do PS não sai lá de cima, onde está rodeado de apoiantes mais chegados. Nem ele, nem ninguém, que o palanque aonde se lê “O Futuro é já”, o slogan da sua campanha, continua tristemente vazio. Os telemóveis tornam-se aliados nesta espera, quer seja para intensas trocas de mensagens, quer para acompanhar os resultados a par e passo. A quase certa demissão do líder do partido é a coisa que menos preocupa agora os socialistas, quando o crescimento da extrema-direita se torna tão evidente com o passar dos minutos.

Pouco depois das onze, já se sabia que o PS teria os mesmos 58 deputados do que o Chega, mas Pedro Nuno Santos só haveria de descer, num elegantíssimo fato azul escuro, sem gravata, ao bater da meia-noite. A sala enche-se então de palmas e punhos no ar. Não há nem uma bandeira a oscilar.
Pedro Nuno bebe água, ganhando assim lanço para o emocionado discurso de despedida. As palmas não acabam e dão espaço a assobios. Gritos de “Pedro! Pedro! Pedro!” juntam-se aos punhos esquerdos no ar. Há pessoas na plateia a chorar. Há gente que se abraça, com aquele ar pesaroso que temos quando estamos a dar os pêsames a alguém.
PS não será suporte do governo
“Boa noite, camaradas!” Depois de agradecer cada voto e o carinho e apoio sentido durante a campanha, Pedro Nuno Santos reconhece a derrota, assume responsabilidade e demite-se. Antes, diz que o PS não será suporte deste governo. “Luís Montenegro não tem idoneidade para o cargo e liderou no último ano um governo que falhou.” Mais palmas.

No discurso também houve algum espaço – pouco – para falar do crescimento da extrema-direita, que se tornou “mais violenta e mais agressiva”. E mais mentirosa. Para combater essa realidade, Pedro Nuno pede coragem e firmeza. E não gastou nem mais um minuto a falar do assunto, o elefante na sala desta noite. A não ser quando disse que o PS se devia afirmar como alternativa à AD, não deixando esse papel para o Chega.
Quando começa a discursar em jeito de balanço, na forma como honrou o partido, agradecendo a um e cada um, percebe-se imediatamente o que vem a seguir. “Pedi eleições internas para o próximo sábado e não serei candidato.” Quanto à continuidade do cargo de deputado, ainda está em avaliação.
A plateia lança um grito de espanto, levanta-se, em ovação, gritando pelo partido. Pedro Nuno comove-se e os seus olhos ficam muito brilhantes. O semblante carregado contrasta de forma irónica com a sua própria foto que está nas suas costas e que o mostra bem sorridente. Quando consegue falar, cita Mário Soares: “Só é vencido quem desiste de lutar.” O líder que só durou um ano e cinco meses diz ainda que não quer ser um estorvo para o partido e que tem a convicção de que o PS ganhará a maioria das câmaras do País, nas eleições autárquicas.
“Pedro, amigo, os camaradas estão contigo!”
“Obrigado do coração. Vamos continuar a lutar pelo nosso partido!”
A sala, entretanto, esvaziou-se de pessoas num instantinho e os equipamentos também não tardaram a estar todos arrumados – o perfeito ambiente de fim de festa, que neste caso nem chegou a acontecer.
