Se um professor português assistir ao filme A Sala de Professores, numa primeira instância talvez fique deslumbrado com as magníficas condições materiais (e ali nem se fala de ordenados), desde o lavatório na sala de aula à amplitude do espaço para os docentes. Mas o que ali está em causa, percebe-se rapidamente, é algo mais profundo, em que até as boas intenções pedagógicas são violentamente derrubadas por uma obsessão moral que, na verdade, é de grande imoralidade.
Carla Nowak é uma professora do primeiro ciclo do Ensino Básico (que em algumas regiões da Alemanha se estende por seis anos). Tem uma relação de proximidade e franqueza com os seus alunos, regendo-se por princípios pedagógicos, mas sempre com uma clara dimensão humanista. A escola, cada vez mais multicultural, está tomada por preceitos morais e burocráticos, contra os quais ela, discretamente, luta, em prol dessas suas prioridades. Domina um ambiente de tensão. A própria professora não esconde o preconceito de que é vítima devido à sua origem polaca.
A grande tensão ocorre quando se percebe que há casos de furto na escola e, sem escrúpulos, a direção resolve investigá-los, no limite legal, para lá dos limites da moralidade. O filme ganha, então, um lado de thriller. Nowak tenta defender o seu mundo e acaba por cair na teia de que tenta fugir. É uma personagem perdida no espaço, mesmo quando permanece determinada na sua missão. A professora é vítima e heroína, ao mesmo tempo, de uma escola transformada em campo de batalha, em que uma certa moralidade bacoca e as regras dos compêndios se sobrepõem aos verdadeiros valores.
O filme revela o realizador Ilker Çatak, cuja obra tinha, até aqui, pouca visibilidade internacional. E destaca-se não só pela atuação da protagonista, Leonie Benesch, como por um conjunto de jovens atores que tornam aquela escola muito credível.
A Sala dos Professores > De Ilker Çatak, com Leonie Benesch, Eva Löbau, Michael Klammer, Rafael Stachowiak > 94 min