Marta Pessoa inspirou-se na obra e na vida de Maria Judite de Carvalho e de Irene Lisboa para construir uma personagem chamada Emília Monforte, escritora emancipada num mundo de homens no Portugal da década de 1950, em plena ditadura salazarista. Ao mesmo tempo, a realizadora segue o esquema de Donzela Vai à Guerra, uma das novelas inscritas no Romanceiro, de Almeida Garrett, que também serviu de base estrutural do clássico Silvestre, de João César Monteiro.
Ainda mais interessante do que isso é o dispositivo que a realizadora montou para esta sua primeira longa-metragem de ficção. Usa o texto narrativo, em off, como base literária e transversal. O texto comanda todo o filme. A imagem submete-se à sua função ilustrativa e isso tanto é feito com excertos de ficção, num sentido clássico, como através de imagens de arquivo. Tudo é trabalhado de forma sóbria, austera, quase minimal, sem excessos nem floreados que provoquem ruído.
Assim, Donzela Guerreira torna-se uma obra extremamente conseguida em toda a sua originalidade, que não é desviante em relação aos documentários da realizadora, como Quem Vai à Guerra (2011), até pela localização temática e a abordagem recorrente do universo feminino. Um filme simples, eficaz e tocante, que nos leva a redescobrir as obras de duas grandes escritoras.
Donzela Guerreira > De Marta Pessoa, com Anabela Brígida, Dina Félix da Costa e Joana Bárcia > 74 minutos