É tudo merda. “O pior é esta cor de merda”; “duvido tanto do amor como duvido da merda”; “esta gente que cospe, que passa a vida a cuspir e a fazer merda…” Em cena, temos dois palcos, duas camadas de significação, e assistimos à atual inevitabilidade da tentação em criticar, com os olhos de hoje, o olhar de ontem. A nova produção do Teatro Praga, Worst Of, que estreou no primeiro dia de novembro, no Teatro Nacional D. Maria II, apresenta, num palco emoldurado, um conjunto de excertos de peças de teatro portuguesas, que vão sendo sujeitas ao escrutínio dos atores que se encontram no palco de fora a dar corpo aos olhos do espectador. O humor acaba por nivelar a importância que podemos não dar às coisas: proferida em tons antitéticos aos do ódio, nunca nos últimos tempos soube tão bem ouvir a palavra “merda”.
“É uma espécie de crítica celebratória, com tudo o que inclui de contraditório mas também de desafiador”, diz Pedro Penim, do Teatro Praga. “A ideia começa com uma espécie de lamento que é constante na academia portuguesa e também no próprio público e no senso comum que acredita que o teatro português – ao contrário do que acontece com a poesia ou a literatura, por exemplo, que têm um reconhecimento internacional – esteve sempre aquém. Mesmo pensando em Gil Vicente ou em Almeida Garrett, que fazem parte de qualquer historiografia do teatro português, eles não têm o peso de Shakespeare em Inglaterra, de Molière em França ou do Século de Ouro em Espanha.” A peça procura levar a pensar se esse “atraso crónico” é necessariamente mau. Da não existência de grandes referências pode resultar uma liberdade criativa sem amarras. “Não quer dizer que as peças sejam boas ou más, porque isso deixa de ser importante, mas esta é quase uma razia geral à ideia de que o teatro português é fraco – na qual nós nos incluímos, porque a última peça é a nossa.”
Worst Of > Teatro Nacional D. Maria II > Pç D. Pedro IV, Lisboa > T. 21 325 0800 > Até 18 nov, qua e sáb 19h, qui e sex 21h, dom 16h > €10 a €17