O spoiler mais útil que vão ler neste texto, por mais paradoxal que possa parecer: O Vento num Violino tem um final feliz. Perante a observação de um dos jornalistas a esse facto, à conversa com os atores no final do ensaio de imprensa, um deles – o que faz de psicólogo, Pedro Carraca – respondeu de modo reativo, dizendo que não se sabia se essa felicidade iria perdurar. E conjeturou hipóteses… É perante a ideia de tempo presente, e no lugar de usufruto deste aqui e agora, sem a tentação imediata de lhe dar consequência, que esta peça, escrita pelo argentino Claudio Tolcachir e encenada por Jorge Silva Melo, para os Artistas Unidos, nos coloca. Contraria-nos, cena após cena, esse hábito de vermos, perante algo que pode correr bem ou mal, as coisas a correrem sempre mal. Essa leveza transversal, por momentos mais dramáticos que haja em cena, é o que torna esta peça tão surpreendente e agradável. Obriga-nos ao presente.
O Vento num Violino conta a história de uma mãe excessivamente protetora em relação ao filho de 30 anos, que nem a faculdade ainda acabou; o cruzamento com a vida da empregada lá de casa e a filha problemática que, juntamente com a namorada, quer arranjar forma de engravidar; e há, por fim, o psicólogo do filho, que tenta lidar da melhor forma possível com o jogo de poder a que o cliente o submete. As vidas de todas estas pessoas acabam por ser entrelaçadas, e os momentos de tensão – choques de personalidades, preconceito e moral, abuso de poder, estratificação social – são aliviados por apontamentos de humor, que chegam a fazer delícias de nonsense. Perto do fim, alguém diz: “A vida não tem sentido e isso é maravilhoso!” Procuramos demasiado a felicidade numa ilusão de futuro, quando ela pode estar, simplesmente, em momentos presentes em que apenas é preciso que se repare neles.
O Vento num Violino > Teatro da Politécnica > R. da Escola Politécnica, 54, Lisboa > T. 96 196 0281 > 5 set-13 out > ter-qua 19h, qui-sex 21h, sáb 16h e 21h > €6 a €10