É um tema pouco provável para fazer um feel good movie, próprio das festividades da quadra, mas não é impossível. Os Meninos que Enganavam os Nazis conta a dramática mas feliz história de uma família judaica obrigada a desagregar-se e a agregar-se novamente aquando da ocupação nazi de França. Centra-se concretamente em dois irmãos que, por força das circunstâncias, são obrigados a fazer uma extensa viagem, ocultando a sua origem judaica, rumo ao Sul de França. Fazem essa viagem sozinhos, sem a companhia dos pais, para não provocar qualquer tipo de desconfiança das cruéis forças opressoras. Pelo caminho há suspense, encontram atos de barbárie e muito medo. Mas também são ajudados, por vezes desinteressadamente, por uma resistência oculta e segregada de cidadãos isolados e corajosos.
Questão transversal ao filme é a identidade. Logo de início, vemos o pai a esbofetear o filho menor, treinando-o assim a não revelar, nem sob o efeito de tortura, a sua origem judia. Assume-se que a única forma de manter a vida é renegar a sua fé, a sua etnia, a sua identidade. A ascendência é algo que aprendem a não contar sequer ao melhor amigo, como estratégia de sobrevivência. A negação do próprio eu revela-se um confrangimento máximo da liberdade. E tal é exposto, de forma clara, durante a libertação, quando a criança finalmente grita que é judia.
Esta revelação à comunidade que de forma desprevenida o acolhe, em momento de regozijo, serve para salvar do linchamento popular elementos de um certo antissemitismo cobarde ou por conveniência, muito comum na França ocupada. Aparece, talvez de forma polémica, como uma lição civilizacional: não vamos cometer os mesmos erros dos nossos opressores. Apesar de ter, como é natural, momentos de tensão, o filme passa sempre ao largo da tragédia e do próprio Holocausto, evitando o confronto de um público mais sensível com a barbárie.
Os Meninos que Enganavam os Nazis é uma adaptação do romance autobiográfico de Joseph Joffo, um escritor, ator e encenador francês, que efetivamente sobreviveu à ocupação alemã. O livro, publicado em 1973, já tinha sido adaptado ao cinema por Jacques Doillon (o realizador de Rodin e Ponette). Esta adaptação do canadiano Christian Duguay é particularmente tocante e delicada.
Traduzido em 19 línguas, editado em 22 países, com mais de 20 milhões de exemplares vendidos, Os Meninos que Enganavam os Nazis, o romance autoiográfico de Joseph Joffo, é um best-seller mundial
Os Meninos que Enganavam os Nazis > de Christian Duguay, com Dorian Le Clech, Batyste Fleurial, Patrick Bruel > 110 min