
A exposição permite-nos olhar a cuidada produção de Siza Vieira na habitação social
Jordi Burch
A habitação social tem sido território de experimentação e desafio para os arquitetos: conjugar realidades económicas, sociais, antropológicas e políticas, é um xadrez complexo cujos resultados têm sido, no mínimo, ambivalentes. É, precisamente, a cuidada produção de Álvaro Siza neste domínio que, em 2016, foi mostrada em Veneza.
Da exposição curada por Nuno Grande e Roberto Cremascoli, mostram-se, em Neighbourhood, Where Álvaro meets Aldo, os projetos para Campo di Marte (em Veneza) cuja construção pensada há três décadas está por concluir; em Schlesischesd Tor (Berlim), onde Siza criou diálogos com a arquitetura moderna da cidade alemã; em Schilderswijk (Haia), em que o arquiteto repensou o Haages Portiek; e no Bairro da Bouça (Porto), onde se revisitavam os bairros populares do Porto e os modelos de habitação operária. Intervenções em que aplicou a ideia de comunidade, a preocupação com as vivências de vizinhança, a latência de um ideário europeu democrático e inclusivo.
Juntam-se-lhes conceitos herdados da cultura arquitetónica italiana e a herança de Aldo Rossi (1931-1997), arquiteto-poeta do espaço, da multiculturalidade e da geometria. Álvaro e Aldo, dois universos, duas vizinhanças, patentes nesta exposição organizada em três núcleos. Entre maquetes, fotografias, textos e cartas destaque para o documentário que mostra Siza Vieira confrontando-se com os moradores das suas criações arquitetónicas e os novos fenómenos urbanos: gentrificação, massificação do turismo, segregação.
A exposição proporciona um encontro de prémios Pritzker: Álvaro Siza ganhou o galardão em 1992, Aldo Rossi foi distinguido em 1990. O curador da 15ª Bienal de Arquitetura de Veneza, Alejandro Aravena, por sua vez, foi o premiado em 2016.
Neighbourhood, Where Álvaro meets Aldo > Galeria de Exposições da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, Via Panorâmica, Porto > T. 22 605 7100 > Até 17 set, seg-sáb 10h-19h > grátis