Foram quase oito minutos de um longo aplauso sem interrupções. De pé, a plateia do Grand Théâtre Lumière, em Cannes, na última edição do festival de cinema, ovacionou o mais recente trabalho de Bono, vocalista dos U2 – e não estamos a falar de um novo disco. Paul David Hewson, 65 anos, que todos conhecem por Bono, editou em livro as suas memórias, Surrender, 40 Canções, Uma História. Em 2023, um ano mais tarde, fez uma tournée de 15 espetáculos intimistas nos EUA e na Europa, desde o Teatro Beacon, em Nova Iorque, ao Teatro di San Carlo, em Nápoles. Agora, é a vez de o público de todo o mundo render-se ao carisma do cantor, compositor e ativista no registo documental Bono: Stories of Surrender, em que celebra a vida e a carreira, numa realização do neozelandês Andrew Dominik.
A verdade é que os dois percursos fundem-se muitas vezes, como ter conhecido a sua mulher Ali na mesma semana em que se juntou aos U2, respondendo a um anúncio de Larry Mullen Jr. A banda que quase se chamou The Hype, a morte da mãe, poucos dias após o funeral do avô, e os estilhaços que isso provocou na sua relação com o pai, tenor, são alguns dos episódios abordados, bem como uma cirurgia ao coração em 2016 e momentos políticos, representativos do seu ativismo constante.
Bono partilha os louros com os outros membros da banda – David “The Edge” Evans, Larry e Adam Clayton – e o empresário Paul McGuinness. No palco deste documentário a preto-e-branco, que usa apenas imagens dos espetáculos em Nova Iorque, pouco mais há do que luzes, uma mesa e algumas cadeiras. É uma espécie de stand up em que as histórias se infiltram nas versões acústicas de muitas das canções da banda irlandesa.
Com o baterista Larry Mullen Jr. recuperado de uma longa lesão, sabe-se que os quatro estão a gravar em estúdio o álbum sucessor de Songs of Experience (2017). E Bono avisa: “Não estamos acabados.”
Bono: Stories of Surrender > Apple TV+ > Estreia 30 mai, sex > 87 min