É com a serra da Estrela no horizonte que o Wool, o primeiro festival de arte urbana do País, volta a ocupar a Covilha, no ano em que celebra uma década de intervenção artística. O legado da indústria têxtil, a essência do lugar e a região voltam a inspirar mais de 40 iniciativas no regresso à cidade beirã até domingo, 4. “É impossível falar da Covilhã sem falar da arte nas ruas do centro histórico”, diz Lara Seixo Rodrigues, curadora de arte urbana e responsável pela organização do Wool, função que partilha com Pedro Seixo Rodrigues e Elisabet Carceller desde 2011.
Nestes dez anos, o festival percorreu muitos outros lugares, em Portugal e lá fora. No percurso, contam-se 122 intervenções, envolvendo mais de 70 artistas. “Fomos responsáveis pelo lançamento de Bordallo II, Add Fuel e Mário Belém na LXFactory”, recorda Lara. Agora, o Wool regressa ao ponto de partida, pois “é aqui que faz sentido acontecer”, assume. Trazer a arte para o Interior e envolver a comunidade é cada vez mais o papel, a missão deste festival. “Não faz sentido estar fora, quando é neste lugar que somos mais necessários.”
Desde a primeira edição, o desafio é homenagear e exaltar o valor do território, histórico e atual, a fauna e a flora. “Enfim, tudo o que é interessante para um artista trabalhar”, descreve Lara. Além de contar histórias, refletir sensações, revelar cores e ambientes da região, os murais “mostram um outro olhar, capaz de criar novos elementos de memória, de autenticidade e de originalidade”. “É quase um redescobrir da nossa própria identidade”, sublinha a curadora.
Nesta oitava edição, nas intervenções murais, foco principal da programação, o destaque vai para o trabalho do Colectivo Licuado, do Uruguai, que chega com a missão de celebrar os 140 anos da 1ª Expedição Científica à Serra da Estrela, realizada pela Sociedade de Geografia de Lisboa, em 1881. Um feito histórico, cujo objetivo foi estabelecer o posto meteorológico, um dos primeiros da Europa, bem como desbravar uma região ainda pouco conhecida, que encerrava em si muitos mistérios.
Ao coletivo uruguaio, juntam-se os portugueses Daniel Eime, cuja intervenção irá homenagear o papel (anónimo) da mulher na indústria secular dos lanifícios, e The Caver que, à sua maneira, fará o retrato de tudo o que é ambiente serrano. Caberá à espanhola Marta Lapeña traçar os elementos identitários do património, num lugar a revelar durante o festival.
No âmbito desta edição, contam-se ainda as residências artísticas de Raquel Belli, fotógrafa e artista visual, que irá tecer o passado e o presente da cidade com técnicas e padrões usados em ofícios tradicionais, e de Nuno Sarmento, um jovem arquiteto português, amante do desenho, cujo trabalho será esboçar toda a história do Wool num rolo de papel, que deverá chegar aos 30 metros de comprimento. O resultado de ambas as residências será visível em diversas montras do comércio local, alargando assim o circuito de visita pelas cerca de 40 intervenções que compõem o atual itinerário do festival.
Haverá também um roteiro sonoro, orientado pelo cantautor Daniel Tavares Nicolau (aka Defski), que envolveu a recolha de sons de artistas a trabalhar, vozes e murmúrios. E ainda uma exposição, Crisis, do artista espanhol Jofre Oliveras, que regressa na companhia da premiada fotógrafa Lucía Herrero, para dar continuidade ao trabalho realizado em 2020, numa reflexão sobre o impacto local das crises de âmbito global.
Além da execução dos murais, que pode ser acompanhada todos os dias, o programa inclui conversas com artistas, na Banda da Covilhã (30 jun, qua 21h15), e visitas guiadas a pé (26-27 jun, sáb-dom 16h30, 2-4 jul, sex-dom 16h30) ou de tuk tuk (3-4 jul, sáb-dom 15h30-19h). Siga-se a arte urbana que volta a colorir o centro histórico da cidade beirã.
Wool – Covilhã Arte Urbana > centro histórico da Covilhã > 26 jun-4 jul > grátis