Quando se recordar a carreira musical de Jack White − e não temos quaisquer dúvidas de que ele vai merecer um lugar de destaque na história do rock no século XXI −, Boarding House Reach não vai aparecer na lista das suas melhores e mais marcantes obras. É um estranho álbum, este, com igual dose de exibicionismo e de academismo. Um disco em que os defeitos se podem confundir com qualidades, e vice-versa. Who’s with me? − quem está comigo? − já surgiu em Corporation, tal como ele repetiu ao vivo no palco principal do último festival NOS Alive, com um look a meio caminho entre o Johnny Depp, de Eduardo Mãos de Tesoura, e Robert Smith, dos The Cure.
Jack White parece sempre alguém que, apesar de introvertido, precisa de ser reconhecido, adulado e adorado. Para o conseguir, apostou todas as suas fichas num objeto: a guitarra elétrica. Além de músico, é uma espécie de estudioso obcecado com o assunto. Daí o academismo deste disco – cheio de quebras, mudanças bruscas a meio de cada faixa, meio louco, irrequieto e fragmentado – que parece querer mostrar tudo o que é (e foi) possível fazer com uma guitarra nas mãos. Aqui pode evocar tanto os Black Sabbath como o jazz, os Rage Against the Machine ou o balanço latino, bem como Hendrix ou os mais clássicos escritores de canções norte-americanos.
A viagem é rápida e alucinada (também com a ajuda de muitos sintetizadores e de parafernália variada). Daí, também, o exibicionismo. E pode a exibição de virtuosismo ser uma qualidade? No caso de Jack White até nos arriscamos a responder que “sim”. Nestas canções desiguais parece haver, ainda, alguma ingenuidade, como se Jack White estivesse sempre a descobrir tudo com o entusiasmo genuíno das primeiras vezes. E isso, sim, é uma qualidade rara nos dias que correm.
Apenas com uma guitarra e uma bateria, Jack White conseguiu, com os seus The White Stripes, criar um imaginário e um som só seu que tem, ainda, alimentado a sua carreira a solo (Boarding House Reach é o terceiro disco em nome próprio) e outros projetos, como os Dead Weather e The Raconteurs
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