Acordar nesta quinta de 50 hectares, no meio do nada, num silêncio conciliador, ainda que saibamos que o mar não está muito longe, é um luxo. Um luxo discreto, que quase nem se nota – ou nota-se na beleza das pequenas coisas: como sair do quarto, que, na verdade, é uma suíte com kitchenette incluída, e seguir a pé para o pequeno-almoço, que se toma dentro ou fora, consoante a meteorologia, mas em que, em qualquer dos casos, se experimentam alguns dos produtos da terra, como limões, laranjas ou abacates.
Ao mesmo tempo, começamos a conectar-nos com a história deste sítio, uma herdade que está no mesmo clã há seis gerações. Ficamos a saber que, durante muitos anos, foi casa de férias da família dos proprietários da conserveira Ramirez, que atualmente já nada tem que ver com este assunto. Hoje, é a morada de José Brion Sanches, de 33 anos, o jovem que dirige este novo negócio familiar com muita dedicação. Aliás, estão à vista de todos o gosto e a envolvência com que recebe os clientes, quase como se fossem seus amigos. Pudemos testemunhar que, em algumas noites, depois do jantar caseiro servido aos hóspedes, acaba a dar tacadas numa partida de snooker, na enorme sala de estar – um antigo armazém agrícola, decorado agora com peças únicas, vintage e desirmanadas, encontradas por ele e pela mãe em lojas de segunda, terceira e sabe-se lá em que mão.
As nove suítes, com 70 m², eram as antigas casas dos trabalhadores da Quinta de Cima. Todas têm também sala de estar, kitchenette, como já se escreveu, e uma casa de banho, que se abre, de par em par, para o aconchegante pátio privativo, onde há mesas e cadeiras para o aproveitar a qualquer hora do dia. Nos interiores, privilegiaram-se os materiais tradicionais: madeira, terracota, mármore, lã e algodão. Os tetos, altíssimos, são tipicamente algarvios e forrados a vime.
Além destes quartos, que ficam todos no mesmo enfiamento, o hotel tem duas villas isoladas, no meio dos pomares, ideais para famílias. Quem ficar numa destas moradias, e privilegiar a privacidade, pode não sair nunca para lado nenhum, pois há piscina, e o pequeno-almoço, caso seja essa a vontade, toma-se em casa.
Desde julho que o restaurante está aberto só para jantares, com receitas da família, como caril ou arroz de pato. Ao almoço, quem quiser ficar pela piscina (um antigo tanque de rega) ou a relaxar numa das cadeiras, abrigadas pela densa vegetação, pode pedir sanduíches e saladas. Para o ano, garantiram-nos, já haverá outra piscina maior e um ginásio. Espaço não falta por aqui. Aliás, faz parte do programa andar a pé pela propriedade, alheado do rebuliço do agosto algarvio.
Continuando em paz e sossego, e chegado o final do dia, porque não uma massagem relaxante no pátio de casa? Trata-se de um dos serviços à disposição dos hóspedes – é só falar com Anabela Fernandes, que anda sempre por aqui, pronta a satisfazer os nossos pedidos (e que também sabe muito bem fazer empreita, o entrançado típico da região, usando folhas de palmeira-anã, uma espécie nativa do Algarve).
E agora, que ninguém nos incomode, que queremos aproveitar cada segundo deste lugar escondido, por entre as árvores de fruto, especialmente se as noites estiverem de feição, como só no Algarve conseguimos senti-las, com todos os sentidos.
Casas da Quinta de Cima > EM1242, Vila Nova de Cacela > T. 96 691 2743 > a partir de €200
Dar uma volta
As melhores bolas de Berlim
As bolas de Berlim da Felismina ainda são amassadas à mão por esta algarvia de 75 anos e vendem-se, desde sempre, nas praias entre Altura e Vila Real de Santo António, mas também podem ser compradas na fábrica, em Casa Alta, perto de Altura. T. 96 263 4783
Andar a cavalo
O madrileno António Ruiz faz passeios de cavalo (ou de charrete) pela Quinta do Alvisquer, onde também dá aulas de equitação. Os mais aventureiros podem ir até à Mata da Conceição ou à praia, fora da época balnear. T. +34 615 840 530
Saborear ostras
Cacela Velha é uma pequena aldeia, mas enorme na hora de se provar as ostras da ria Formosa. Quando falta a paciência para esperar por um lugar na Casa da Igreja, rume-se à Casa Velha e remate-se o petisco com um arroz de lingueirão. R. de Cacela Velha, 2 > T. 281 952 297
Passeio na Formosa
A ria, que banha esta zona do Algarve, é encantadora – e mais ainda se nos deslocarmos nas suas águas num barco que não emite ruído nem polui, porque usa a energia solar para nos levar num passeio pelos ecossistemas locais. Solar Moves > Cais de Cabanas > T. 92 436 9172