Abóboras transformadas em terrinas, peixes pendurados no teto, lagartixas que fogem parede acima, rãs e sapos sarapintados prontos a saltar, um caracol que passa devagar entre os pratos couve-lombarda. Neste pequeno armazém de porta aberta para o Campo de Santa Clara, em Lisboa, cabe o que a indústria cerâmica das Caldas da Rainha vai produzindo em peças de louça utilitária e decorativa, escolhidas por Américo Ortega e Pedro Claro.
“Isto era o armazém de panos que se vendiam aqui ao lado, na loja onde o Pedro abriu um antiquário, e queríamos dar-lhe alguma utilidade”, conta Américo. Demoraram algum tempo a decidir que destino lhe dar, e a solução acabou por ser mais simples do que pensavam. “O que está aqui tem a ver com o nosso gosto. Temos um património artístico rico e há muito mais para oferecer do que aquilo que se conhece. Mesmo as lojas que vendem esta louça, têm sempre as mesmas coisas”, justifica. Foi um trabalho de campo, que se fez porta a porta. Américo e Pedro encontraram uma indústria que tem vindo a decair e que sobrevive de pequenas unidades, na maioria familiares. “Até a lista que a câmara nos deu estava desatualizada”, conta Pedro.
A fazer jus ao nome, as peças estão à venda em prateleiras de madeira pintadas de branco a fazer brilhar pratos, travessas, jarros e taças de formas variadas que vão bem à mesa. Mas também em caixas de fruta, a mostrar de quantas cores se pintam os carapaus, as sardinhas e as andorinhas que servem de decoração lá para casa. “Não trazemos tudo”, diz Pedro, “são coisas escolhidas por nós, algumas até em cores diferentes das habituais que temos conseguido graças ao contacto direto que mantemos com algumas fábricas”. Depois há um ou outro produto que, fugindo a tudo o resto que aqui se vende, não estão ali por acaso. Como as cabeças de boi, em branco craquelê, ou de carneiro (exemplares únicos por não se produzirem mais) a “casar” tão bem com o espírito da Feira da Ladra, que ali acontece ao sábado e à terça-feira. Tirando estes dias, em que reina a confusão, saiba o leitor que aqui o estacionamento é fácil e sem pagamentos. Informação útil para quem quiser deslocar-se de carro, pois nunca se sabe se será necessário. É que a louça pesa.
Armazém das Caldas > Campo de Santa Clara, 112, Lisboa > ter-dom 11h-19h