Vindima com chuva não é novidade e não é necessariamente um mal, embora cause sempre desassossego. Há que vindimar quando as uvas atingem o ponto ideal de maturação – variável conforme o tipo de vinho que se pretende –, e a colaboração do tempo revela-se fundamental. Neste ano, o tempo não ajudou e a vindima foi difícil. Começou a chover mal começou a vindima – chuva intermitente, por vezes muito intensa, trovoadas e granizo –, com inevitáveis repercussões quer na maturação das uvas quer na tomada de decisões na vinha e na adega, bem como na execução dos trabalhos. Foram dias e noites a consultar a meteorologia, a observar as vinhas, a rever as expectativas e a repensar a forma de conceber os vinhos, tendo em conta as circunstâncias – e a recordar outros anos desfavoráveis. “Outro 2014?”, repetiam alguns. Em breve se saberá.
Entretanto, provámos alguns vinhos de Dirk Niepoort, herdeiro de uma casa prestigiada de vinho do Porto, que data de 1842; interveniente ativo na conceção e revelação dos grandes vinhos do Douro, desde 1991, quando apresentou o seu Redoma; e autor de vinhos inovadores noutras regiões. Não sendo enólogo, Dirk Niepoort revelou grande intuição e talento na conceção dos vinhos, desde o início, e a experiência ensinou-lhe o resto. Se os primeiros entusiasmos foram para vinhos poderosos, quase rústicos, depois apostou na elegância e agora quer que sejam leves, frescos, finos e puros. Este é o conceito subjacente aos vinhos Niepoort que apresentamos, todos da Bairrada: V.V. Vinhas Velhas Branco 2017, Lote D Tinto 2014 e Drink Me Nat Cool Tinto 2020 (deixamos para uma melhor ocasião os vinhos do Porto e do Douro, uns e outros sobejamente conhecidos).
Apresentado como “tributo aos grandes vinhos bairradinos do passado, leves na cor e no grau alcoólico, mas com enorme potencial de envelhecimento”, o Lote D surpreende e entusiasma. Quanto ao V.V. Vinhas Velhas, proveniente de uvas da Quinta de Baixo, é leve, seco e distinto, como os grandes brancos bairradinos sabem ser. O Nat Cool é um conceito criado pela Niepoort para vinhos leves e fáceis de beber, e tem a sua primeira expressão neste Drink Me, que é isso mesmo: direto, fresco, agradável, perigosamente escorregadio…
Niepoort V.V. Vinhas Velhas Bairrada Branco 2017
Elaborado com uvas das castas Bical e Maria-Gomes, de cepas com 80 anos, da Quinta de Baixo, em viticultura biológica, tem cor amarelo-citrina, aroma fino e expressivo, com notas frutadas, florais e minerais bem conjugadas, paladar elegante e encorpado, com enorme acidez, textura suave e um toque mineral no final. Grande branco bairradino. Muito gastronómico. €28,85
Niepoort Lote D Tinto 2014
Feito com uvas das castas Baga e Poeirinho, de cepas com mais de 100 anos, plantadas numa encosta virada a sul, na Quinta de Baixo, estagiou por 20 meses em tonel velho. Apresenta uma brilhante cor rubi, aroma intenso e complexo a frutos pretos, com notas de especiarias e um delicado toque floral, paladar com acidez e taninos bem presentes a derramarem frescura e suavidade. Pouco alcoólico (10,8% Vol.), muito personalizado, com presença na boca impressionante. €115,30
Drink Me Nat Cool Bairrada Tinto 2017
Só de uvas da casta Baga com fermentação e estágio de seis meses em cuba de inox. Tem cor aberta, aroma jovem, frutado e floral, paladar leve, fresco e direto, que convida a beber. Surpreendentemente versátil à mesa com pratos também leves e simples. Cumpre bem o papel de “mostrar um lado diferente e elegante da casta Baga”, com um vinho “incrivelmente fácil e direto que se deixa beber”. €9,65