“Todos os dias chegam ao mercado novos vinhos que são outros tantos desafios para os enófilos”, escrevi eu, há pouco tempo, nesta coluna, a chamar a atenção dos apreciadores para a qualidade e diversidade da oferta e a incitar uma melhor escolha. Referia-me aos vinhos portugueses, lançados nos últimos meses, que são mesmo bons e que valem, muitos deles, bem mais do que custam. Semanas depois, calhou provar um duo Quinta de Camarate, o Branco Doce e o Branco Seco, lançados simultaneamente. Ao escrever a nota de prova do primeiro, então publicada, reparei neste pormenor: foi criado em 1986, com as castas Moscatel de Setúbal, Riesling e Gewurztraminer; as castas estrangeiras foram substituídas, na década de 90, por duas dos Vinhos Verdes: Loureiro e Alvarinho; em 2007, o Loureiro deu lugar ao Verdelho (com mais complexidade) e, depois, a Moscatel foi caindo e acabou por sair do lote, em 2009. Quanto ao Branco Seco, começou por ser Fernão Pires, com a marca Palmela, a seguir Moscatel de Setúbal e Fernão Pires, já com a marca Camarate, e mais recentemente passou a ser Alvarinho e Loureiro.
É um pormenor revelador, porque, com as técnicas atuais, fazer bem os vinhos está ao alcance de qualquer um; melhorá-los, indo à procura das castas ideais, já supõe que elas existam nas vinhas (e não é por capricho que, na Quinta de Camarate, há uma coleção ampelográfica com mais de 560 castas diferentes, de todo o mundo); e dar-lhes caráter exige abertura de espírito, talento e coragem. Fazer vinho é, portanto, um desafio exigente, sobretudo quando tudo pode ruir, por causa do tempo, como aconteceu com o recente escaldão. A chuva na floração e os ataques fortíssimos do míldio e do oídio causaram prejuízos, mas ainda havia expectativas de boa colheita, que o escaldão deitou por terra. As perdas são enormes.
Quinta de Camarate Branco Doce 2017
Uvas das castas Alvarinho (56%) e Loureiro (44%), aroma a frutos tropicais; paladar também frutado com volume e bom equilíbrio. Doce, sem ser late harvest ou colheita tardia. É para beber jovem, como aperitivo, ou para acompanhar sushi ou sobremesas. €6,99
Três Bagos Sauvignon Blanc Branco 2017
Monocasta, fermentado e estagiado, durante quatro a cinco meses, em inox (80%) e em barricas de carvalho francês (20%), tem aromas tropicais e a maçã verde, típicos da casta; paladar fresco com estrutura, acidez e equilíbrio cativantes. Pronto para beber, mas com potencial de evolução em garrafa. €9,50
Esporão Colheita Regional Alentejano Branco 2017
Só Antão Vaz e só de uvas cultivadas na Herdade do Esporão, segundo práticas de agricultura biológica, com fermentação parcial em cubas de betão e estágio de quatro meses, sobre borras finas. Cristalino, belíssima cor palha, aroma citrino, com notas de fruta branca, paladar fresco e final elegante. €9,99