As harmonizações decorrem numa bela sala do edifício do séc. XIX ocupado pelo IVDP
Ricardo Castelo/NFACTOS
Existem casamentos previsíveis e outros a desafiar as convenções. No passado dia 10, cimentou-se uma aliança duradoura entre os Vinhos do Porto da Real Companhia Velha e as iguarias trazidas pela Confraria dos Doces Conventuais de Tentúgal, presença assídua no My Port Wine Day. A bela sala do Instituto dos Vinhos do Porto e do Douro (IVDP), um edifício do séc. XIX contíguo ao Palácio da Bolsa, encheu-se de curiosos de copo na mão, completamente convencidos quanto ao argumento de que este é um vinho para todos os dias e para todos os momentos.
Os vinhos do Porto da Real Companhia Velha casaram com as iguarias trazidas pela Confraria dos Doces Conventuais de Tentúgal
Ricardo Castelo/NFACTOS
“Esta iniciativa é uma forma de vencer uma série de preconceitos e de ideias feitas associadas ao vinho do Porto”, sublinha Bento Amaral, diretor dos Serviços Técnicos e de Certificação do IVDP. Todos os meses, é convidada uma companhia diferente para apresentar os seus produtos e associá-los a outra iguaria. Pelas harmonizações do My Port Wine Day já passaram chocolates, queijos e muitos doces, assim como outros cúmplices mais improváveis, desde o chá verde japonês a sardinhas de conserva. Na prova a que assistimos, uma meia lua de alheira em massa de pastel de Tentúgal também testava a plasticidade desta receita tradicional, acompanhada por um Porto Tawny 10 anos da Real Companhia Velha. “Queremos mostrar que o pastel não se esgota na sua versão original”, explicava Olga Cavaleiro, durante a apresentação, enquanto representante da Confraria dos Doces Conventuais de Tentúgal. Um pequeno vídeo dava conta das dificuldades e da beleza da confeção da massa, mais fina do que papel vegetal, feita apenas por mulheres. “Leva só água e farinha, não tem qualquer tipo de gordura, por isso surpreende ser tão crocante, é difícil comer um pastel em segredo”, brinca aquela que é também a presidente da Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas, quando já se ouvem pela sala as primeiras trincas ruidosas.
Na prova seguinte, é sugerida uma Queijada de Tentúgal para acompanhar um Porto Tawny 20 anos da Real Companhia Velha, a mais antiga empresa de vinhos de Portugal, criada no mesmo ano da região demarcada do Douro, em 1756, por Alvará Régio de El-Rei D. José I e sob os auspícios do Marquês de Pombal. “Normalmente servem-se vinhos do Porto com doces ou com queijos, nas queijadas juntam-se ambos e como têm um sabor persistente é preciso um vinho para limpar a boca e chegar às papilas gustativas”, explica Bento Amaral. Os louvores à doçaria popular, tantas vezes esquecida, são feitos por Olga Cavaleiro: “A queijada tem uma matriz antiga, fazia-se nas casas rurais onde havia abundância de queijo, e a de Tentúgal tem certamente muito queijo”, conta. Com uma vantagem adicional: “Pode-se comer em segredo.”
Ricardo Castelo/NFACTOS
A julgar pela adesão a esta sessão, a Confraria dos Doces Conventuais de Tentúgal deverá repetir a presença no My Por Wine Day. Por enquanto, sabe-se apenas que a próxima harmonização, a 10 de junho, será de vinhos do Porto Vintage e LBV da Quinta do Noval, com a pavlova de frutos vermelhos da Confeitaria Briosa, em Coimbra. Uma festa para as papilas gustativas.
IVDP – Instituto dos Vinhos do Porto e do Douro > R. Ferreira Borges, 27, Porto > T. 22 207 1600 > todos os dias 10 de cada mês, às 18h > Inscrições prévias: myportwineday@ivdp.pt > €5 (desconto desse valor numa compra na loja do IVDP)