Os chocos com tinta e as ostras de Aveiro, a pescada da Póvoa, o leitão da Bairrada ou os legumes de Amarante. Não são só os pratos tradicionais a ganhar protagonismo na nova carta do restaurante do The Yeatman, mas os produtos portugueses, sazonais (os elencados e outros), tratados com mestria pelo chefe de cozinha Ricardo Costa. Com o tal toque contemporâneo que permite explorar as potencialidades destes sabores.
Falemos do menu especial do chefe, com dez pratos de degustação (existem outros menus de seis e quatro pratos) onde o fio condutor está bem delineado. Mesa portuguesa, com certeza, onde não faltam os vinhos escolhidos com rigor por Beatriz Machado, a diretora de vinhos, o pão (de algas, sementes de abóbora e cogumelos) e o blend de manteigas preparado pelo chefe. As surpresas começam logo pelos amuse-bouches, guardados numa caixa de vinhos de madeira como pequenos tesouros. São eles: Petinga de escabeche, ceviche carabineiro com alface romana, vitelo tonnato e salada de frango de piri piri. Aprovados pela apresentação e pelo sabor.
O primeiro prato, a sanduíche de beringela com manjericão, faz a ligação com o passado, nomeadamente com a francesinha com barriga de atum que tanto êxito teve na casa. Seguem-se os coloridos Legumes de Amarante – uma referência ao produtor de micro vegetais que Ricardo Costa conheceu nos tempos da Casa da Calçada e que permaneceu como seu fornecedor –, servidos com um saudável sumo de couve e gengibre (detox gourmet?). O menu faz depois a viragem para os sabores de mar, em originais combinações: cocktail de ostras nacionais (da ria de Aveiro, donde o chefe é natural, elogiadas pela evolução da sua qualidade) com tutano e caldo aves; chocos com tinta, na versão 2016, com cannelloni feito do mesmo e ovas de choco frito (um prato popular numa versão minimalista); mexilhão ao vapor com caldo de caril e coco (com uma apresentação exótica); pescada da Póvoa sauté com polvo e molho de salicórnia; lombo braseado de bacalhau com ervilhas frescas e chouriço (mais português do que isto não há); e lampreia cozinhada de modo tradicional (à bordalesa, acrescente-se), com molho de vinho tinto , puré de maçã e pele de leite, capaz de conquistar os comensais mais céticos. Nas carnes, apenas dois exemplares: a inevitável barriga de leitão crocante com cenouras em diferentes texturas; e o lombo de vaca de marinhoa velha (com uma ligeira maturação), grelhado, com creme de batata, cogumelos morilles e molho de carne. Nas sobremesas, para além do refrescante ruibarbo, em creme e merengue, com gelado de queijo de mascarpone, o chefe Ricardo Costa regressa às origens com uma versão arrojada da tripa doce, esta acentuando os sabores da banana e do chocolate.
Após um encerramento de cerca de dois meses para repensar as propostas gastronómicas, o restaurante premiado com uma Estrela Michelin passa a estar aberto, desde ontem, 9, apenas ao jantar. “Dá-nos mais tempo para apurar os conceitos”, explica Ricardo Costa. O hotel vínico ganhou ainda mais um restaurante, instalado na Sala Orangerie, com menus executivos ao almoço e serviço à carta ao jantar, onde também é privilegiada a culinária portuguesa, com uma abordagem contemporânea.
The Yeatman Hotel > R. do Choupelo, (Santa Marinha),Vila Nova de Gaia > T. 22 013 3100 > seg-dom 19h30-23h > Menus de degustação por €145, €120 e €90