1. António Palolo na Coleção Manuel de Brito, Centro de Artes Manuel de Brito
Quando se expuseram pela primeira vez, nos anos sessenta, na Galeria 111 em Lisboa, os quadros coloridos de António Palolo, os críticos ficaram radiantes com a criatividade do jovem artista de Évora. Figura referencial da arte portuguesa do século XX, António Palolo (1946-2000), pintor autodidata, construiu um corpo de trabalho marcado pela geometria, pelo uso inteligente e arriscado da cor, pelo impacto visual das peças, por vezes pouco obedientes aos confinamentos da tela.

O Centro de Artes Manuel de Brito (nova designação do espaço da histórica Galeria 111, fundada em 1964 por Manuel de Brito) mostra obras do artista pertencentes à sua coleção. Afirma a comissária da exposição, Arlete Alves da Silva: “Em 2025 cumprem-se 25 anos sobre a sua morte prematura. António Palolo é hoje o artista português mais falsificado com centenas de obras apreendidas pela Polícia Judiciária. Por respeito à sua memória e como conhecedora da sua obra, desde 1964 até à sua morte, sinto-me na obrigação de organizar uma exposição para esclarecer os muitos colecionadores que têm obras falsas e também os estudiosos e curadores da sua obra”. CAMB > Campo Pequeno, 113 A, Lisboa > até 21 jun, ter-sáb 10h-19h > grátis
2. Disco, de Vivian Suter, MAAT
Anunciada como um dos acontecimentos do ano no MAAT, Disco rouba o nome a um dos cães de Vivian Suter e mostra mais de 500 pinturas da artista suíço-argentina, incluindo 163 trabalhos expostos pela primeira vez.

A produção luxuriante integra o projeto por ela desenvolvido em Panajachel, na Guatemala, marcado pela geografia, pela Natureza, pelo acaso. “Nada do que tenho trabalhado como artista teria sentido sem este lugar, sem estas árvores, sem as folhas, sem os meus cães que me seguem para onde quer que vá”, diz. Isto porque as suas pinturas abstratas, coloridas, sem títulos, são igualmente trabalhadas pela terra, pelo Sol, pelas chuvadas, pelas pegadas de animais, pelas folhas e pelos insetos, pela passagem do tempo: tudo é organicamente incorporado na obra. Escreve o curador Sérgio Mah: “Ela descobriu um cenário fecundo onde se entregou a uma prática disciplinada, solitária e obsessiva, através da qual foi constituindo uma linguagem plástica única, um idioma expressivo particular, com as formas vivas desse lugar.” MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia > Av. Brasília, Belém, Lisboa > T. 210 028 130 > até 17 mar, qua-seg 10h-19h > €11
3. RAMOT – António da Costa Cabral, Arquivo Municipal de Lisboa/Fotográfico

António da Costa Cabral (1901-1974) passou a sua vida a fotografar. Fazia-o muito em viagem, mas também em casa, onde organizava constantemente sessões com a mulher e os 12 filhos, e na rua, deambulando por Lisboa, sozinho com a sua máquina Leica ou na companhia de outros sócios do Foto-clube 6×6. O 4.º conde Tomar levava tão a sério este seu hóbi que tinha uma câmara escura em casa e participava em salões, assinando com os pseudónimos Ramot e Marto, anagramas de Tomar. Ainda assim, a sua própria família ficou espantada quando a equipa do Arquivo Fotográfico contou o número de peças doadas: mais de 14 mil.
Um pouco deste seu mundo pode ser visto até ao dia 15 de março, numa deliciosa exposição que povoa todas as salas do número 246 da Rua da Palma. Mas não se distraia o leitor com a ilusão do tempo, porque ele passa célere. Se puder, marque já um lugar na visita guiada de amanhã, sábado, 16, a partir das 15h (arquivomunicipal.se@cm-lisboa.pt ou T. 21 817 1330). R.R. Arquivo Municipal de Lisboa/Fotográfico > R. da Palma, 246, Lisboa > T. 21 817 1330 > até 15 mar, seg-sáb 10h-18 > grátis
4. Nicholas Nixon – Coleções Fundación MAPFRE, Centro Cultural de Cascais
Rigor do enquadramento, virtuosismo técnico, modulação da luz, controle da narrativa. Deambulando por entre as mais de 200 fotografias patentes nesta ambiciosa exposição, todas estas ferramentas estão presentes. Mas ficam aquém: este universo a preto e branco usou uma grande angular emocional. Nixon, um norte-americano do Michigan nascido em 1947, formado em Literatura e sensível ao realismo de Faulkner ou Steinbeck, começou a trabalhar nas suas séries fotográficas nos anos 1970. “Quando cheguei a Boston vindo do Centro-Oeste dos EUA, tudo me parecia surpreendente. A convivência entre o velho e o novo, as sombras e as luzes (…) ainda hoje, 30 anos depois, continua a emocionar-me”, contou. Se as fotografias inaugurais, captadas com a Leica, alinharam com o movimento visual emergente dedicado às metrópoles urbanas, geométricas e vazias, o retrato transformou-se depois na sua verdadeira missão.
Nicholas Nixon não assume uma ideologia, mas captou as populações mais desfavorecidas (revelando laços e tensões raciais), os idosos (a sua decrepitude e o alheamento, quase aproximando-os de criaturas fantásticas), os infetados com sida (em imagens reveladoras do poder da dor). E ainda casais (em planos fechados), a sua família (a imensa devoção à mulher, Bebe, os filhos, as cunhadas) em que se destaca a famosa série Irmãs Brown. O curador Carlos Gollonet sublinha que a sua fotografia trata de “captar tudo aquilo que não se vê, como o amor, a paixão, a felicidade, a dor, a intimidade, a passagem do tempo ou a solidão”. Privilegiados são os que observam deste lado. Centro Cultural de Cascais > Av. Rei Humberto II de Itália, Cascais > T. 21 481 5660/5 > 16 nov-16 fev, ter-dom 10h-18h (última entrada 17h40) > €5
5. Viagens na Minha Terra, de Augusto Brázio, Narrativa
Almeida Garrett pode ter inspirado o título para os ensaios fotográficos que Augusto Brázio publica desde 2015, integrados no projeto com Nelson d’Aires, em que cada fotógrafo desenvolve trabalho nas fronteiras dos concelhos, freguesias, lugares. Uma panorâmica singular sobre o Portugal contemporâneo.

Mas a Umberto Eco, e à sua “irrealidade quotidiana”, pode roubar-se o título para descrever Viagens na Minha Terra, exposição que, pela primeira vez, sintetiza esta produção visual de Brázio. É que a vintena de fotografias revela uma via diferente da desocultação fácil, da narrativa-pronta-a-consumir, da reação visual à realidade social. O fotógrafo usou, aqui, um filtro diferente, criando uma produção algo enigmática: paisagens por vezes indecifráveis, figuras apanhadas em coreografias que nos escapam, objetos a iludirem a sua função natural, deixando o contexto na sombra.
“Estas fotografias são o outro lado do espelho”, diz o autor à VISÃO. Acrescenta: “O fotógrafo é uma pessoa que toma decisões; aqui, o importante não é apenas o que revelo, mas o que não revelo [no enquadramento]. Estes ensaios fotográficos são o resultado de uma estratégia pensada, para que as imagens não sejam óbvias e para que as narrativas visuais não sejam fechadas em si próprias.” Este é igualmente o princípio do cinema, sublinha, uma influência estendida ao idioma visual: “Criei uma fotografia específica, resultante de um cuidado com a luz, que é muito homogénea em todas as cenas. Há luz com utilização de flash, luz construída, quase uma fotografia de cena…”, descreve. As cenas foram captadas em Águeda, Covilhã, Ponte de Sor, Torres Novas, e a alguns destes lugares o fotógrafo nunca tinha ido. Isso foi importante: “Quando trabalhamos nos mesmos sítios, temos vícios do olhar; o primeiro olhar é sempre mágico.” A viagem começa aí. Narrativa > R. Dr. Gama Barros, 60, Lisboa > até 22 fev, qua-sex 14h-19h, sáb 14h-17h > grátis
6. And Your Flesh Becomes a Poem, de Tamara Alves, Galeria Underdogs
Em Marvila, a Underdogs abre o ano com uma exposição individual de Tamara Alves (a última vez que expôs na galeria foi há cinco anos). A figura feminina continua a ser foco central no trabalho da artista e ilustradora que, em And Your Flesh Becomes a Poem, apresenta 27 novas obras (aguarelas, desenhos, dípticos e esculturas), em materiais diversos, como a resina e a madeira. “Nestes últimos cinco anos”, explica Tamara Alves, “tenho-me interessado pela mensagem da ausência, do silêncio. Pelo invisível, pela sedução do não-dito”. Tamara Alves pintou também um mural na parte de trás da galeria. The Wolf Awaits, inspirado numa frase de Abbas Kiarostami, “convida à contemplação e à reflexão sobre a nossa própria essência”. I.B. Galeria Underdogs > R. Fernando Palha, 56, Lisboa > até 8 mar, ter-sáb 14h-19h > grátis
6. Intimidades em Fuga. Em Torno de Nan Goldin, MAC/CCB

Nan Goldin ainda nos estremece com a honestidade da série The Ballad of Sexual Dependency, em que documentou vida, vícios e afetos da sua tribo de amigos e amantes entre 1979 e 1986, numa Nova Iorque vibrante. É um diário visual que elimina distâncias confortáveis entre público e privado, um ensaio vérité. As 126 imagens captadas pela fotógrafa norte-americana alinham-se como um fio de Ariadne no MAC/CCB – como um travelling, um corrimão visual que (des)ampara os visitantes, confrontando e pontuando as obras de outros 35 artistas nas salas fronteiras. Pintura, desenho, vídeo, fotografia, exploram narrativas, autorrepresentação, subjetividade, numa diversidade de possibilidades de trabalhar o corpo e a intimidade num tempo pós-Big Brother orwelliano (e televisivo, e instagramável). Observamos. Somos testemunhas, intérpretes, cúmplices, voyeurs? Somos quem se debate, hoje, com a “fuga da intimidade” – e isso dá-nos um novo olhar sobre estas obras. MAC/CCB – Centro Cultural de Belém > Pç. do Império, Lisboa > T. 21 361 2878/21 361 2913 > até 31 ago, ter-dom 10h-18h30 > €7 a €12
7. Santo António na Publicidade, Museu de Lisboa – Santo António

A imagem de Santo António colada a lotarias, vinhos e bengalas? Essa foi – e é – uma realidade que já vem pelo menos desde o século XIX, mostra-nos o Museu de Lisboa – Santo António nesta exposição que reúne cartazes, anúncios da imprensa, selos, rótulos, pagelas (estampas religiosas), peças de barro, medalhas, copos, caixas de fósforos. Formas diversas de publicidade, que vão “refletindo os gostos de cada época e realçando a estreita ligação da produção publicitária com o santo a quem tudo se pede em momentos difíceis”, pode ler-se na nota de imprensa. I.B. Museu de Lisboa – Santo António > Lg. de Santo António da Sé, Lisboa > até 20 abr, ter-dom 10h-18 > €3
8. Jean Painlevé, Culturgest

A Culturgest anuncia “a maior exposição” dedicada a Jean Painlevé (1902-1989), pioneiro documentarista e fotógrafo de vida animal. Entre meados da década de 1920 e o início da década de 1980, Painlevé realizou cerca de 200 curtas-metragens, nas quais retratou um insólito bestiário subaquático. Nesta exposição, é apresentada uma seleção de filmes raros e impressões fotográficas de Jean Painlevé e Geneviève Hamon, sua companheira, e colaboradora mais próxima, desde que se conheceram em 1924, até à sua morte. O documentarista francês tinha a convicção de que “a ciência é ficção”, empregando arrojo estético e experimental aos seus filmes e imagens através de técnicas de filmagem e edição criativas. Nos dias 25 de janeiro e 8 de março, realiza-se uma visita guiada à exposição com Ana Gonçalves (às 16h). I.B. Culturgest > R. Arco do Cego, 50, Lisboa > T. 21 790 51 55 > até 23 mar, ter-dom 11h-18h > €5, dom grátis
9. William Klein – O Mundo Inteiro É um Palco, MAAT

O fotógrafo franco-americano que comprou uma primeira câmara a Henri Cartier-Bresson não se preocupava com o momento decisivo ou a discrição: o acaso e a conversa com os desconhecidos criavam as suas imagens. William Klein – O Mundo Inteiro É um Palco é a maior exposição dedicada ao artista desde o seu desaparecimento: são 150 obras, que dão conta do Klein curioso, performático, multifacetado, viajado. Fotografias que pertencem ao A-Z da contemporaneidade, sim, mas também as pinturas (foi aluno do pintor Fernand Léger e artista experimental), os filmes delirantes (Broadway by Light, curta-metragem abstratizante sobre as luzes de Nova Iorque, fez Orson Welles dizer que, se havia um filme que merecesse ter cores, era aquele…) e os registos do Maio de 68 (teve como consultor Alain Resnais e Serge Gainsbourg como ator…). E as provas de contacto pintadas, as capas, os cartazes, as imagens tiradas em Nova Iorque, Paris, Moscovo, Roma, Tóquio (só em dois dias, no Japão, Klein captou mais de seiscentas imagens). MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia > Av. Brasília, Lisboa > até 3 fev, qua-seg 10h-19h > €6 a €11
10. CAM – Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian

As exposições inaugurais do novo CAM evidenciam questões sociais e de sustentabilidade – vejam-se as 80 obras patentes em Linha de Maré, refletindo sobre a relação dos seres humanos com a bioesfera, ou o gesto social e político da instalação monumental de Leonor Antunes que evoca as mulheres do modernismo, contrariando a sua “subalternização” histórica. A nova Galeria da Coleção abriga as Reservas Visitáveis, e no Espaço Engawa, está O Calígrafo Ocidental, mostra fotográfica e documental sobre a estada de Fernando Lemos no Japão, enquanto bolseiro da Gulbenkian e estudante de caligrafia na década de 1960. No átrio do CAM, há H BOX, sala de vídeo itinerante concebida por Didier Faustino. Centro de Arte Moderna > R. Marquês de Fronteira, 2, Lisboa > Leonor Antunes até 17 fev, Linha de Maré até 11 mai, Espólio de Fernando Lemos até 17 mar > €8, grátis dom a partir das 14h