Enquanto decorre a colheita das uvas, porventura a mais participada e excitante atividade ligada à vinha e ao vinho – “Ó moças não há tempo/ Como é o de vindimar/ De dia colhe-se a uva/ E à noite é namorar!”, cantava-se nas rogas do Douro –, vamos provando os vinhos já feitos, que chegam ao mercado no seu tempo certo, prontos para beber ou para guardar em casa. E que bons vinhos temos para degustar: Rola-Pipa 2020, branco de lote com Verdelho, Terrantez do Pico e Arinto dos Açores, três nobres castas açorianas, que assinala o 72º aniversário da Cooperativa Vitivinícola do Pico – Picowines, narra uma história exaltante e tem um perfil irresistivelmente sedutor; Quinta do Monte d’Oiro Branco 2021, vinho biológico – a viticultura em modo de produção biológica com gestão parcelar foi opção rápida e clara de José e de Francisco Bento dos Santos, pai e filho, para a sua propriedade da região de Lisboa –, tão elegante, acessível e amigo da mesa que se tornou companhia habitual; e Bons Ares Rosé 2021 é uma primeira edição, uma estreia auspiciosa e uma boa surpresa da Ramos Pinto, pela elegância, frescura e versatilidade verdadeiramente agradáveis.
Mas voltemos ao Rola-Pipa, cuja história merece registo particular: naquele solo de lava preta da ilha do Pico foi preciso criar condições para fazer chegar os vinhos aos barcos, para serem transportados até à ilha do Faial, e é por isso que lá estão, bem visíveis, os sulcos abertos nas lajes de basalto pelas rodas dos carros de bois nas suas idas e voltas, a que chamam “rilheiras”; as rampas talhadas por forma a nelas rolarem as pipas até ao embarque, daí o nome rola-pipas; e as plataformas, também aplanadas na rocha, a golpes de “marrão”, ditos ancoradouros, em que os barcos acostavam. Dali saíram vinhos célebres, dos quais este é herdeiro, ou não tivesse sido propositadamente “rolado”.
Rola-Pipa Pico (Branco) 2020
Vinho de lote com as castas Verdelho, Terrantez do Pico e Arinto dos Açores, de vinhas plantadas à beira-mar. Há elementos de iodo e de salinidade, presentes em toda a prova, que lhe imprimem um caráter genuinamente picoense, advindo da lava basáltica do solo e dos ventos salgados do Atlântico. Fino e delicado no aroma, que também exibe boas notas de fruta fresca, muito bem estruturado e cheio de harmonia no paladar. Surpreende e seduz. €25
Quinta do Monte d’Oiro Regional Lisboa (Branco) 2021
Lote das castas Viognier, Arinto e Marsanne de vinhas em modo de produção biológica, com fermentação em cubas de inox. Aroma sedutor, muito limpo e fresco, com boas notas cítricas, e paladar elegante, com perfeita harmonia entre acidez e fruta. Um vinho sempre apetecível, mas cujo lugar de eleição é a mesa, onde revela grande versatilidade. €10
Bons Ares Regional Duriense (Rosé) 2021
Elaborado com uvas das castas Cabernet Sauvignon (60%), Tinta-Barroca (30%) e Touriga-Nacional (10%), com fermentação e estágio de 10% em casco. Tem cor suave, entre o amarelo e o rosa, aroma fino com notas frutadas, vegetais e um delicado toque floral, paladar elegante, fresco, seco e macio, com acidez bem medida a derramar frescura. Requer mesa com mariscos, peixes, pratos de cozinha italiana e oriental. €14