A exposição Diz-me do que gostas… dir-te-ei quem és, patente no MUDE Museu do Design e da Moda, Coleção Francisco Capelo, é, mais uma vez, fruto do dinamismo e capacidade dos responsáveis do museu – pelo lançamento de novas ideias e propostas, bastante reveladoras, do que se passa no mundo e em território nacional, na área do design e da moda.
Desta vez, entre os envolvidos, estão 22 criadores (ver caixa) que apresentam regularmente as suas coleções, e um revelador questionário de Proust. O repto foi lançado pela comissária da mostra, e diretora do MUDE, Bárbara Coutinho. A ideia é simples: fazer o retrato destes designers, através das respostas a este questionário. Tentar conhecê-los em termos da sua identidade/personalidade e através dela ter uma leitura um pouco mais aprofundada do seu trabalho e, como consequência natural, da moda nacional.
A seleção dos intervenientes foi feita olhando para as duas semanas da moda, ou seja para quem apresenta com regularidade na Modalisboa e no Portugal Fashion. Assim, o convite foi dirigido a todos os que estão no ativo no nosso país, portugueses e não só, visto que Aleksandar Protic e Lidija Kolovrat são estrangeiros, e o Filipe Oliveira Batista está a trabalhar em Paris, por exemplo. Chegou-se a este número, porque foram estes que responderam essa é a única razão. Denotam-se algumas ausências: efetivamente a dupla Manuel Alves/José Manuel Gonçalves não está presente, tal como o Nuno Gama, mas tudo teve a ver com “uma questão de timmings e informações que não foram possíveis reunir”, explica a comissária. Nada que impeça a visita a esta exposição.
Mas, afinal, o que é o questionário de Proust?
Era um jogo de salão, composto por uma lista de 29 perguntas (ver caixa com alguns exemplos), muito popular na belle époque parisiense.
A lista tornou-se famosa, após o escritor e pensador francês Marcel Proust lhe ter respondido duas vezes, a primeira com 13 anos apenas, e a segunda, sete anos depois, passando então a ser designada como questionário de Proust.
Muito utilizado, ao longo dos anos em diversas áreas, é uma forma rápida, e ao mesmo tempo certeira, de conhecer a identidade mais psicológica e a forma como o indivíduo que a responde constrói a sua imagem. Foi isso que fizeram estes 22 estilistas, ao responderem às questões… abriram os seus corações, ditaram os seus medos, aspirações, influências e gostos.
O que vamos ver?
Além do resultado do inquérito, que será visto através de um slide show com as respostas dadas, houve outro desafio lançado, em paralelo, e que complementa a mostra. Aos estilistas foi-lhes pedido que cada um escolhesse três coordenados, aquele com que acabou a sua licenciatura/formação, um de referência e outro do ano 2012. Ao todo será possível ver 60 coordenados expostos numa passarela fechada dos quais apenas três pertencem à coleção Francisco Capelo. Dois de Ana Salazar, um deles histórico, do anos 80, e outro de José António Tenente.
Estão organizados por épocas de trabalho, antiguidade e percurso, mas ao mesmo tempo como um círculo que nunca se fecha. A estas peças acrescem mais objetos, referências, em forma de livros, filmes, músicas, que para eles tivesse algum significado especial. A banda sonora da exposição é uma compilação das músicas escolhidas, assim como o vídeo projetado, uma edição de trechos dos filmes. De referir que todas as peças foram escolhidas por cada designer.
Bárbara Coutinho explica-nos: “Foi algo determinado, logo à partida, fazia parte do objeto, do objetivo e metodologia da exposição. O papel do curador aqui é de lançamento da ideia, sistematizá-la e depois trabalhá-la com o resto da equipa no display da exposição.”
Estas três áreas complementam-se entre si, criando no seu todo uma imagem para cada um dos criadores representados. “No fundo, cada estilista é o objeto, sujeito, matéria, a finalidade e é o seu próprio curador.” Diz-nos ainda que “é muito curioso, por exemplo, chegar aos Storytailors e perceber ao olhar para os coordenados, e depois para as peças referência (expostas numa base à sua frente), e perceber a razão dessa escolha, ao nos depararmos com o livro Alice no País das Maravilhas ou, ainda, com livros de princesas, reis e rainhas, começando a perceber todo o universo da sua formação. Há, aliás, um livro muito engraçado, tridimensional, que o João (um dos criadores da dupla Storytailors) me dizia que a mãe lhe lia, e que está todo pintado e riscado por ele”.
Quando questionada sobre o que levam os visitantes depois de verem a exposição, Bárbara responde: “Primeiro vão perceber a diversidade de linguagens, de estilos e de percursos destes 22 criadores. Nunca estiveram assim, juntos desta forma, e aí é imediato ver as linguagens muito díspares que os caracterizam. Espero que o público saia daqui mais consciente da riqueza e da diversidade da moda nacional, e que o público em geral, já para não falar dos estrangeiros que nos visitam, tenha noção de quem são todos estes criadores. Gostaria muito, não sei se isso será possível, que esta fosse já uma génese, para uma futura coleção de design de moda em Portugal, que o MUDE não tem, mas que a meu ver é o grande objetivo que está por detrás desta exposição. Mostrar que nós temos realmente essa capacidade, temos esse material disponível junto dos próprios criadores, para que através de doações ou de depósitos, nós pudéssemos começar realmente a ter aqui um espólio da história da moda em Portugal.”
Aleksandar Protic, Alexandra Moura, Anabela Baldaque, Ana Salazar, Dino Alves, Fátima Lopes, Filipe Faísca, José António Tenente, Katty Xiomara, Lidija Kolovrat, Lara Torres, Luís Buchinho, Maria Gambina, Marques’Almeida, Miguel Vieira, Os Burgueses, Ricardo Andrez, Ricardo Dourado, Ricardo Preto, Storytailors, V!tor e White Tent.
Ana Salazar Qual a época histórica que mais gostaria de vestir? 2050.
Paulo Almeida (Marques/Almeida) Qual a palavra que mais detesta? Estilista.
Maria Gambina O seu objeto fetiche? A minha fita métrica que pertencia à minha avó.
Aleksandar Protic Quem é o seu mestre? Eu.
Alexandra Moura Quem são os seus heróis de ficção? Charlie Brown.
Eleutério (Os Burgueses) Onde gostaria de viver? Dentro de uma biblioteca de livros, música e filmes.
Filipe Faísca Como gostaria de morrer? Consciente.
Lidija Kolovrat Qual é o seu atual estado de espírito? Neon.
Ricardo Dourado Que defeito perdoa mais facilmente? A beleza.
DIZ-ME DO QUE GOSTAS… DIR-TE-EI QUEM ÉS
MUDE Museu do Design e da Moda, Coleção Francisco Capelo R. Augusta, 24 T. 21 888 6120 30 Mar-10 Jun, Ter-Dom 10h-20h