Um estudo publicado em fevereiro na revista médica Journal of Alzheimer’s Disease conclui que o vírus do herpes HSV-1 – causa comum das irritações nos lábios (herpes labial) – está associado ao surgimento da doença de Alzheimer, a forma mais comum de demência em todo o mundo, causando até 70% dos casos.
A infeção por herpes afeta 3,7 mil milhões de pessoas no mundo com menos de 50 anos e é transmitida através do contato direto com uma área contaminada, mesmo quando o vírus está dormente, isto é, quando não é visível nenhuma ferida ou irritação. Após a primeira infeção, o HSV permanece inativo no organismo o resto da vida. O vírus pode nunca causar sintomas ou pode estar adormecido e ser periodicamente reativado.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, mais de 55 milhões de pessoas foram diagnosticadas com demência em 2023. Segundo o estudo, estima-se que quase 10 milhões de pessoas recebam novos diagnósticos de demência a cada ano.
A investigação, cujo objetivo é entender a correlação entre estas duas condições, foi liderada por Erika Vestin, uma estudante de medicina da Universidade de Uppsala, na Suécia. As descobertas indicam que a probabilidade das pessoas infetadas pelo herpes ficarem com demência é duplicada em comparação com as pessoas que nunca possuíram o vírus. Segundo os investigadores, foi tida em consideração a existência de dois principais fatores impulsionadores do Alzheimer e dos outros tipos de demência já conhecidos: a idade e a presença do gene APOE4. Os resultados mostram que a associação se mantinha independentemente destes aspetos.
O estudo foi realizado com 1.002 pessoas de 70 anos, até então sem demência, que viviam na Suécia entre 2001 e 2005. Oitenta e dois por cento dos participantes eram portadores de herpes, dos quais 6% já tinham feito tratamentos para o vírus. Os cientistas fizeram o acompanhamento dos idosos durante um período de 15 anos, garantindo a possibilidade de detetar indivíduos diagnosticados em estágios mais avançados de demência.
Erika Vestin afirma que os tratamentos contra o herpes podem mitigar o risco de demência relacionado ao HSV, sendo que reduziu esse risco em 70% das pessoas com a infeção. A estudante acrescenta que o facto de todos os participantes terem cerca de 70 anos elimina as diferenças de idade e os resultados tornam-se mais confiáveis. Apesar de defender a necessidade de continuar a investigação sobre o tema, Vestin conclui que surgem cada vez mais evidências, resultantes de vários estudos, que indicam que o herpes é uma causa do aumento do risco da demência.