Há mais um estudo a alertar para os perigos do consumo de alimentos ultraprocessados (alimentos ricos em açúcar, sal, gordura, conservantes e corantes artificiais e pobres em proteínas e fibras), desta vez com o foco no risco de desenvolver demência. As conclusões apontam para que a cada aumento diário de 10% no consumo de alimentos ultraprocessados, como batatas fritas e refrigerantes, o risco de demência aumente 25% por cento.
Já a substituição de apenas 10% destes alimentos por outros não processados ou menos processados, como fruta, vegetais, legumes ou leite, foi associada a um risco 20% menos de demência.
Para esta investigação publicada no jornal Neurology, foram acompanhados, durante cerca de 10 anos, mais de 70 mil indivíduos com 55 anos ou mais. Todos os participantes foram incluídos num de quatro grupos, consoante a percentagem de consumo de ultraprocessados, depois de os investigadores calcularem o consumo diário, em gramas, destes e de outros alimentos. Refrigerantes, produtos açucarados e laticínios ultraprocessados foram os principais produtos nesta lista de consumo indesejável. Em média, a comida ultraprocessada prefazia um total de 9% do total da dieta diária dos participantes no grupo com a percentagem mais baixa – o equivalente a 225 gramas por dia. O grupo com a percentagem mais elevada consumia uma média de 814 gramas de alimentos ultraprocessados diariamente. Os investigadores exemplificam que uma dose de pizza ou “douradinhos” equivale a 150 gramas.
Das 18.021 pessoas do grupo com o consumo mais baixo, 105 desenvolveram demência, um número que aumentou para 150 no grupo com a mesma dimensão e o consumo mais elevado.
Os investigadores sublinham, no entanto, que o seu estudo não prova que estes alimentos causam demência, mas sim que sugere uma associação. Além disso, os casos de demência foram contabilizados através dos registos hospitalares e registos de óbitos e não de cuidados primários, o que faz com que os casos mais levem possam não ter sido contabilizados.
“Estes alimentos podem também conter aditivos alimentares, moléculas de embalagens ou produzidas durante o aquecimento, tendo sido demonstrado noutros estudos que todos eles têm efeitos negativos no pensamento e na memória. A nossa investigação não só descobriu que os alimentos ultraprocessados estão associados a um risco acrescido de demência, como também descobriu que a sua substituição por opções saudáveis pode diminuir este risco”, refere a autora do estudo, Huiping Li, da Universidade Médica de TianJin, China.
Apesar da dificuldade em encaixar os alimentos numa determinada classificação – por exemplo, uma sopa caseira não tem o mesmo valor nem de processamento nem nutricional de uma enlatada, assim como um hamburguer à base de plantas, que pode ser saudável mas, ao mesmo tempo, ultraprocessado – estão referidos nana categoria de ultraprocessados os refrigerantes, os snacks doces e salgados, salsichas, feijão cozido e tomate enlatados, ketchup e maionese, assim como guacamole e húmus embalados, pão também embalado e cereais de pequeno-almoço açucarados.