A dexametasona é um medicamento corticosteroide, com capacidade para reduzir inflamações, que ganhou destaque devido à sua eficácia no tratamento de doentes Covid-19. Neste caso, os investigadores quiserem perceber se o mesmo medicamento também produz efeitos benéficos que possam ajudar a reduzir o fluxo menstrual nas mulheres que apresentam hemorragias abundantes.
Um dos perigos da perda de sangue em abundância é a redução dos níveis de ferro no sangue, que pode levar a problemas de saúde como por exemplo anemia por défice de ferro.
O estudo, publicado na revista EBioMedicine, envolveu 97 mulheres, a partir dos 18 anos, que foram selecionadas na Clínica de ginecologia do Serviço Nacional de Saúde Lothian, na Escócia. Para que as mulheres preenchessem os requisitos necessários à investigação tinham de relatar ciclos menstruais regulares com uma duração entre 21 e 42 dias e com uma média de perda de sangue igual ou superior a 50 mililitros ao longo de dois períodos de triagem.
“O período menstrual intenso pode afetar intensamente a vida de uma mulher, especialmente com empregos ou circunstâncias da vida específicos”, disse Pamela Warner, co-autora do estudo e Professora da Universidade de Edimburgo, ao The Guardian.
De forma aleatória, 24 participantes receberam um placebo e 73 receberam uma das seis possíveis doses de dexametasona (0,2 mg, 0,4 mg, 0,5 mg, 0,6 mg, 0,75 mg, 0,9 mg). A utilização de placebo é muito importante durante estudos para descobrir a eficácia de um novo remédio, uma vez que funciona como um medicamento que não possui efeito ativo. Ou seja, algumas pessoas fazem o tratamento com o medicamento que está a ser investigado e outras com um placebo. Assim, se os resultados forem iguais para os dois grupos, é sinal que o novo medicamento não faz qualquer efeito. Durante a investigação, a medicação foi tomada duas vezes por dia durante cinco dias antes do início da menstruação e repetiram o processo ao longo de três ciclos menstruais.
Os resultados sugerem que a dexametasona pode reduzir o volume de sangue perdido durante a menstruação, sobretudo em quem tomou a dosagem maior (0,9 mg) duas vezes ao dia. Comparando os valores de perda de sangue, de quem tomou a dosagem maior, antes e depois do tratamento verificou-se uma redução média de 19% no volume de perda de sangue em comparação com os valores iniciais de cada indivíduo. Comparativamente a quem tomou placebo, registou-se uma redução média de 25 mililitros na perda de sangue.
“É o primeiro tratamento médico totalmente novo para o sangramento menstrual intenso em quase 20 anos”, acrescentou Warner ao The Guardian.
O tratamento revelou alguns efeitos secundários leves, como tonturas, dor de cabeça e perturbações no sono, mas as vantagens evidenciadas foram bastantes, tais como o facto de a dexametasona poder ser prescrita a mulheres com sangramento menstrual intenso que queiram controlar os sintomas quando estão a tentar engravidar ou como opção de tratamento a mulheres que queiram evitar o tratamento cirúrgico ou que desenvolvem efeitos secundários graves a tratamentos hormonais.
Ainda assim, estudos com uma amostra mais numerosa são essenciais para perceber se as conclusões obtidas são viáveis e descobrir se existem potenciais efeitos secundários a longo prazo, que até agora são desconhecidos. A co-autora do estudo disse que uma opção a ser analisada no futuro pode ser a administração de um medicamento através de um pessário vaginal (um dispositivo removível usado, por exemplo, para alivar os sintomas associados ao prolapso dos órgãos pélvicos), ou outro método local, que não necessite de uma dose tão alta de dexametasona e que, por consequência, reduz a probabilidade de desenvolver efeitos secundários.