Provavelmente sabe que o consumo exagerado de bebidas alcoólicas aumenta o risco de cancro da faringe. Mas talvez seja novidade o facto de o álcool também estar relacionado com outros tipos de cancro, como o da mama ou o do cólon, mesmo em consumos moderados.
Num estudo coordenado pelo responsável da cadeira de Saúde Pública, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, Mark Petticrew, alerta-se para esta realidade escondida, dissimulada pela indústria, numa tentativa de proteger o negócio. “Seja responsável, beba com moderação”, com esta frase, as empresas de bebidas alcoólicas descartam-se do dever de informar, numa atitude que os autores do estudo comparam à da indústria do tabaco.
Na base do trabalho, estão os materiais de divulgação na área da saúde produzidos por 26 empresas do setor. Manipulação das evidências, ocultação de resultados, negação, são os ‘crimes’ mais assinalados. Em particular no caso do cancro da mama, um dos mais comuns, e em que dez anos de investigação e mais de cem estudos científicos evidenciam risco aumentado – 10 gramas de álcool por dia (equivalente a uma cerveja ou um copo de vinho) já tem um peso de cinco por cento.
Reforçando que a indústria das bebidas acaba por condicionar as políticas do álcool em boa parte dos países europeus, os académicos questionam se “é ético que a indústria do álcool engane o público desta maneira”. Já num estudo apresentado no ano passado, em que se relacionava o consumo de álcool com sete tipos diferentes de cancro, recomendava-se que as embalagens passassem a ter esta indicação, tal como acontece nos maços de tabaco.
(Artigo publicado na VISÃO 1283, de 5 de outubro de 2017)