No passado, os lobos eram dos mamíferos mais bem distribuídos do hemisfério norte mas, como desde sempre foram vistos como uma ameaça, os governos incentivava à caça desta espécie, o que provocou que quase se extinguisse.
Nos EUA, desde 1974 que os lobos cinzentos faziam parte da lista de espécies protegidas. com exceção de 2012 a 2014 e desde janeiro do ano passado, quando o Serviço de Pesca e Vida Selvagem retirou os lobos cinzentos desta lista em 48 Estados, pouco antes de Donald Trump deixar o cargo.
Wisconsin, o primeiro estado a retomar a caça, foi forçado a organizar uma temporada oficial de caça em fevereiro, depois de uma organização pró-caça ter ganho uma ordem judicial, que excedeu largamente as quotas de caça – 200 lobos.
Este evento foi, em grande parte, responsável pela queda desta população animal, concluiu um grupo de investigadores da Universidade de Wisconsin. Logo nas primeiras 60 horas, ou seja, menos de três dias, foram mortos mais de 216 lobos, ultrapassando em mais de 80% o número estipulado de 119 pelo Departamento de Recursos Naturais de Wisconsin.
Adrian Treves, professor de Estudos Ambientais, realçou, num artigo publicado pela revista JPeer, que as descobertas da sua equipa deveriam suscitar dúvidas sobre a realização de outra época de caça este outono e servir de aviso aos responsáveis pela vida selvagem de outros Estados relativamente aos lobos.
A remoção das proteções federais “abre a porta a antagonistas para matar grandes números em curtos períodos, legal e ilegalmente”, explicou Treves e dois membros da equipa. “A história do bode expiatório político dos lobos pode repetir-se.”
Com base em modelos populacionais, Treves e os investigadores da Universidade de Wisconsin Francisco Santiago-Avila e Karann Putrevu estimaram que os caçadores mataram mais 95 a 105 lobos em Wisconsin entre 3 de novembro, quando foi anunciado o plano para levantar as proteções federais, em meados de abril.
Tendo em conta que as mortes reduziram o total de lobos em todo o estado para números entre 695 e 751, de mais de mil na primavera de 2020, o Departamento de Recursos Naturais (DNR) de Wisconsin tem o desafio de manter a população estável, mesmo com a caça.
O problema de não haver regras
A equipa de investigadores realça ainda que mais de metade das mortes são provocadas pela “caça furtiva enigmática”, ou mortes ilegais em que o caçador furtivo não deixa provas, em que o corpo do animal é largado e a sua coleira de identificação é destruída.
Treves considera que as pessoas hostis aos lobos podem considerar a flexibilização das regras como um sinal de que atacá-los é aceitável. Um artigo de 2017, no entanto, em resposta a um dos seus estudos anteriores, descreveu a alegação como “baseada em análise defeituosa e interpretação pouco convincente da literatura científica”.
Os gestores da vida selvagem no Michigan e Minnesota estão também a considerar abrir a caça ao lobo. Em alguns Estados ocidentais, os legisladores republicanos estão a pressionar métodos agressivos, tais como a caça noturna, o pagamento de prémios e a autorização de disparar de paraquedas motorizados, moto quatro ou máquinas de neve, em qualquer altura do ano. Além disso, a DNR de Wisconsin disse no seu website que se prepara para uma caça no outono “através de um processo transparente e baseado na ciência” que terá em conta os resultados de fevereiro.
No artigo, o investigador reforça que os funcionários nesses Estados deveriam ser avisados que a caça furtiva não declarada pode ser “massiça” e deve ser incluída nas quotas de caça, uma vez que pode conduzir a população da espécie a um nível perigosamente baixo.