É um relatório com um sabor agridoce: por um lado, entre 49% e 80% – dependendo do tipo de produto ou serviço – dos consumidores dizem que levam em conta a sustentabilidade nas suas compras do dia a dia; por outro, apenas 1% a 7% dos consumidores estão preparados para pagar mais por essa sustentabilidade. Ou seja, se o produto “verde” for em tudo igual ao outro mas mais caro, praticamente ninguém o compra.
As conclusões são de um inquérito da Boston Consulting Group (BCG) a 19 mil pessoas de oito países (EUA, China, Brasil, Japão, Alemanha, França, Itália e Índia). No mesmo estudo de opinião, 70% os inquiridos mostraram-se céticos quanto ao progresso das empresas no caminho da sustentabilidade e apenas 20% disseram acreditar que as suas opções pessoais têm real impacto.
Apesar disso, as pessoas, aparentemente, tentam adotar comportamentos ambientalmente responsáveis nas suas vidas: 36% fazem reciclagem em casa e 29% optam por produtos de limpeza e banho de refill. No caso dos automóveis, 38% garantem que só pegam no carro quando estritamente necessário (embora aqui não seja claro se o preço do combustível não será um fator).
Nos resultados por categoria, os produtos ou serviços de luxo encontram-se no fundo da lista das preocupações: apenas 49% dos inquiridos se dizem preocupados com a sustentabilidade, quando os adquirem. Os carros e os fornecedores de eletricidade são as categorias que suscitam mais preocupações ambientais, com 80%.
No momento de pôr a carteira onde está a preocupação, o interesse dos consumidores na sustentabilidade esmorece. O melhor resultado, 7%, foi nos produtos para a casa; os piores, nas viagens de lazer (1%) e nas compras de supermercado (2%); nas restantes categorias, 3% dos inquiridos disseram-se dispostos a pagar um valor premium por produtos e serviços mais sustentáveis nos snacks, luxos, carros e roupa; 4% em fornecedores de eletricidade, computadores e tablets, bebidas, produtos de beleza e restaurantes.
O relatório, no entanto, diz que esta é a ponta do icebergue, e que as empresas têm tudo a ganhar se conseguirem incentivar os consumidores a adotarem estilos de vida sustentáveis, de três formas: fazer compromissos relevantes localmente (por exemplo, os americanos e os japoneses são mais sensíveis às questões de reciclagem relacionadas com as embalagens); alargar o alvo (comunicar a saúde ou a qualidade do produto juntamente com a sustentabilidade), e quebrar barreiras (um dos problemas é que, muitas vezes, os consumidores partem do princípio que o produto sustentável é mais caro, mesmo quando não é).
Aparna Bharadwaj, da BCG e um dos autores do relatório, diz que “é fácil interpretar estes sinais como uma falta de prontidão dos consumidores”, mas, acrescenta, “as empresas nunca irão maximizar o potencial dos produtos e serviços sustentáveis se se concentrarem apenas nos consumidores que estão dispostos a pagar mais”. “Há um número significativo de consumidores que estão no limiar de escolher produtos e serviços sustentáveis. A questão-chave é: ‘Como os encorajamos a agir?’”